quarta-feira, 15 de março de 2017

Modernismo- segunda geração

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
Cidadezinha qualquer

Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.

Devagar... as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus


1. (Fuvest 1996)  Esse poema é de Carlos Drummond de Andrade e foi escrito na década de 20, sob a influência de ideias modernistas.
a) Que aspectos da realidade nacional estão representados nas duas primeiras estrofes?
b) Que valores estão implícitos no ponto de vista adotado pelo poeta no último verso do poema?
  
2. (Fuvest 1996)  a) A mesma oração repete-se nos versos 4, 5 e 6, mudando apenas o sujeito. Exponha, com base no próprio poema, a intenção contida tanto na mudança quanto na repetição.
b) Ainda nesses versos, a oração mantém a mesma ordem de construção, invertendo-a no 70. verso. Explique a consequência da inversão na visão que se oferece da cidadezinha.
  
3. (Unirio 1998)                         CANTIGA OUTONAL

            Outono. As árvores pensando...
            Tristezas mórbidas no mar...
            O vento passa, brando, brando...
            E sinto medo, susto, quando
            Escuto o vento assim passar...
                                               (Cecília Meireles)

1 - Apesar de modernista, a autora apresenta tendências de outro movimento literário, evidentes no texto. Que movimento é esse?

2 - Retire do texto uma passagem que justifique a sua resposta anterior e, a seguir, cite a característica que ela apresenta.
  
4. (Unirio 1998)                         METADE PÁSSARO

            A mulher do fim do mundo
            Dá de comer às roseiras,
            Dá de beber às estátuas,
            Dá de sonhar aos poetas.
            A mulher do fim do mundo
            Chama a luz com um assobio.

            Faz a virgem virar pedra,
            Cura a tempestade,
            Desvia o curso dos sonhos.
            Escreve cartas ao rio,
            Me puxa do sono eterno
            Para os seus braços que cantam.
                                               (Murilo Mendes)

1 - Cite o movimento de vanguarda a que o texto acima pode ser associado.

2 - No texto, o autor desestrutura o senso e instaura o contrassenso.
      Teça um breve comentário que justifique a afirmativa acima.
  
5. (Unicamp 1998)  AQUARELA

            Murilo Mendes

Mulheres sólidas passeiam no jardim molhado da chuva,
o mundo parece que nasceu agora,
mulheres grandes, de coxas largas, de ancas largas,
talhadas para se unirem a homens fortes.

A montanha lavada inaugura toaletes novas
pra namorar o sol, garotos jogam bola.
A baía arfa, esperando repórteres...
Homens distraídos atropelam automóveis,
acácias enfiam chalés pensativos pra dentro das ruas,
meninas de seios estourando esperam o namorado na janela.
estão vestidas só com uma blusa, cabelos lustrosos
saídos do banho e pensam longamente na forma
do vestido de noiva: que pena não ter decote!
Arrastarão solenemente a cauda do vestido
até a alcova toda azul, que finura!
A noite grande encherá o espaço
e os corpos decotados se multiplicarão em outros

O título do poema de Murilo Mendes poderia ser explicado a partir de qualquer uma das definições a seguir:
AQUARELA:

1. Massa com pigmento de várias cores, que se deve dissolver em água para reduzi-la a tinta;
2. Técnica de pintura (...) na qual o aquarelista deve trabalhar rapidamente, sem se deter em minúcias e sem poder sobrepor a tinta para retoques;
3. (fig.) Visão alegre ou otimista de uma época, uma situação, um lugar, etc.

a) Escolha um dos significados da palavra AQUARELA e explique a escolha desse título para o poema.
b) Em AQUARELA, o verso "o mundo parece que nasceu agora" concentra algumas imagens poéticas que são recorrentes no poema todo. Explicite duas dessas imagens e encontre em outros versos do poema expressões que reflitam essas imagens.
  
6. (Ufu 1999)  "Canção Amiga"

Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.

Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não me veem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.

Eu distribuo um segredo
como quem ama ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.

Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.

Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças."
(Carlos Drummond de Andrade, ANTOLOGIA POÉTICA)

Considere o poema acima e faça o que for pedido.

a) Explique a razão pela qual esse poema pode ser considerado lírico. Fundamente sua resposta com trechos do poema.

b) Se houvesse mudança da pessoa verbal do poema para a 3a pessoa, ainda assim o poema poderia ser considerado lírico? Fundamente sua resposta com trechos do poema.
  
7. (Unirio 1999)             A Flor e a Náusea (fragmento)

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
                                    (Carlos Drummond de Andrade)

1- Que representa a "flor" no fragmento apresentado no texto?

2- A que fase do Modernismo pertence esse fragmento?

3- Cite uma característica desse movimento existente no texto.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
TEXTO I

Rio de Janeiro

Fios nervos riscos faíscas.
As cores nascem e morrem
Com impudor violento
Onde meu vermelho? Virou cinza.
Passou a boa! Peço a palavra!
Meus amigos todos estão satisfeitos
Com a vida dos outros.
Fútil nas sorveterias.
Pedante nas livrarias
Nas praias nu nu nu nu nu nu.
Tu tu tu tu tu no meu coração.

Mas tantos assassinatos, meu Deus.
E tantos adultérios também.
E tantos tantíssinos contos-de-vigário ...
(Este povo quer me passar a perna.)

Meu coração vai molemente dentro do táxi.

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988, p. 11.)


TEXTO II

            Uma cidade é uma cidade é uma cidade. Ela é feita à imagem e semelhança de nosso sangue mais secreto. Uma cidade não é um diamante transparente. Ela espelha, palmo a palmo, o mundo dos homens, suas contradições, abusões, virtudes e desterros. Milímetro por milímetro. A mão do homem em toda parte. No asfalto. No basalto domado. Na pedreira. Nos calçadões. Na rua, onde os veículos veiculam nosso exaspero e desespero. Uma cidade nos revela. Nos denuncia naquilo que escondemos. Grande construção, empreitada de porte enorme, regougo de martelos e martírios. 1Construímos nossa cidade. Somos construídos por ela. Os elos e cordames nos enlaçam, nos sufocam. Boiamos e nadamos dia e noite, levados numa escuma onde borbulhas se abrem, como furúnculos maduros. Onde está a saída, ou a entrada?
(PELLEGRINO, Hélio. A burrice do demônio. Rio de Janeiro: Rocco, 1988, p. 82)

Vocabulário:
1 - "abusão": engano, ilusão, erro; superstição, crendice.
2 - "basalto": rocha vulcânica.
3 - "regougo": voz da raposa ou qualquer som que a imite; ronco.


TEXTO III

Qual será o futuro das cidades?

1          As megacidades vão mudar de endereço no próximo milênio.
2          Na periferia da globalização, as metrópoles subdesenvolvidas concentrarão não apenas população, mas também miséria. Crescendo um ritmo veloz, dificilmente conseguirão dar a tantas pessoas habitação, transportes e saneamento básico adequados. Mas não serão as únicas a enfrentar esses problemas. Mesmo metrópoles do topo da hierarquia global, como Nova York, já sofrem com congestionamentos, poluição e violência.
3          Independentemente de tamanho ou localização, as cidades vão enfrentar ao menos um desafio comum: o aumento da tensão urbana provocado pela crescente desigualdade entre seus moradores. Não há mágica tecnológica à vista capaz de resolver as dificuldades. Os urbanistas apontam o planejamento como antídoto para o caos. Os governos precisam apostar em parcerias com a iniciativa privada e a sociedade civil. 1Será necessário coordenar ações locais e iniciativas conjuntas entre cidades de uma mesma região.
(Caderno Especial, FOLHA DE S. PAULO, p. 1, 02/5/1999.)



8. (Uff 2000)  Responda, com uma frase completa, a cada uma das perguntas a seguir:

a) Qual sentido, dentro do contexto, da expressão destacada nos versos "Meus amigos todos estão SATISFEITOS / COM A VIDA DOS OUTROS." (v.6 e 7)?

b) A que estilo de época pertence o texto I? Justifique sua resposta.
  
9. (Ufv 2000)  Em um estudo sobre o Modernismo brasileiro, o crítico João Luiz Lafetá assim definiu a produção literária do decênio de 30.

A "politização" dos anos trinta descobre ângulos diferentes: preocupa-se mais diretamente com os problemas sociais e produz os ensaios históricos e sociológicos, o romance de denúncia, a poesia militante e de combate.
            (LAFETÁ, João Luiz. "1930: a crítica e o modernismo." São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1974. p.18)

Reflita sobre o romance "Vidas Secas" e, de forma concisa, responda:

Em que medida a narrativa de Graciliano Ramos está de acordo com as propostas contidas no fragmento acima?
  
10. (Fuvest 2000)  QUERO ME CASAR

Quero me casar
na noite na rua
no mar ou no céu
quero me casar.

Procuro uma noiva
loura morena
preta ou azul
uma noiva verde
uma noiva no ar
como um passarinho.

Depressa, que o amor
não pode esperar!

(Carlos Drummond de Andrade, ALGUMA POESIA)

a) Caracterize brevemente a concepção de amor presente neste poema.

b) Compare essa concepção de amor com a que predominava na literatura do Romantismo.
 
Gabarito:  

Resposta da questão 1:
 a) A vida lenta e monótona das pequenas cidades do interior.
b) A negação desse estilo de vida em favor da vida agitada da modernidade.  

Resposta da questão 2:
 a) A repetição reitera a ideia de monotonia, e a mudança de sujeito coloca no mesmo plano homens e animais, unidos pela morosidade.
b) A inversão de "devagar" quebra a monotonia.  

Resposta da questão 3:
 1 - Simbolismo.

2 - Passagem: Resposta pessoal do candidato.
     Característica: O esquema rímico e o esquema rítmico traduzem a musicalidade;
a presença de elementos sensoriais;
a presença de palavras, etc.  

Resposta da questão 4:
 1 - Surrealismo.

2 - A falta de lógica apresentada em cada verso, na relação dos verbos com os substantivos.
      Exemplo: 20. v, 30. v, 60. v, etc.  

Resposta da questão 5:
 a) 3. (fig.) "Visão alegre ou otimista de uma época" pois corresponde à caracterização constante do texto.

b) "o mundo parece que nasceu agora" sugere um mundo reconstruído por imagens surrealistas e poéticas: "Homens distraídos atropelam automóveis", "meninas de seios estourando", "alcova toda azul".  

Resposta da questão 6:
 a) O poema lírico está centrado no EU. "Eu preparo uma canção". O poeta faz uma referência - de forma fragmentada - do seu modo de viver.

b) Sim, pois há o elemento subjetivo que interage nas ações do narrador.  

Resposta da questão 7:
 1- Esperança.
2- À segunda fase.
3- Liberdade formal; a linguagem se aproxima do nível coloquial...

OBSERVAÇÃO:
            Serão consideradas outras respostas que sejam pertinentes às questões.  

Resposta da questão 8:
 a) O eu lírico refere-se a uma situação em que seus amigos encontram-se satisfeitos com a vida, mas não com a deles, como seria de se esperar. Ao dizer que estão "satisfeitos com a vida dos outros", insinua que: 1) seus amigos vivem falando dos outros; 2) seus amigos comparam suas vidas com as dos outros, o que pode implicar tanto que não estejam satisfeitos com as suas próprias vidas, quanto invejam as vidas alheias.

b) Modernismo, porque trata de um tema ligado à vida cotidiana, usando uma linguagem informal em estrofes assimétricas, sem preocupação com uma metrificação rígida.  

Resposta da questão 9:
 O romance "Vidas Secas", de Graciliano Ramos traduz a problemática do homem nordestino, em que as condições naturais são as mais adversas: o cenário aponta um ambiente hostil, marcado pela seca. A luta pela sobrevivência se torna uma constante, e as condições culturais reservam ao homem do sertão um universo pobre, marcado pelo instinto e pela animalização. As condições sociais são opressoras, transformando os inúmeros "Fabianos" em seres reificados.  

Resposta da questão 10:
 a) A concepção de amor é idealizada pelo "eu-lírico" do poeta. Ele aceita qualquer tipo de noiva - loura, morena - mas é preciso concretizar o desejo em alguma mulher.

b) Tanto neste poema modernista como no romântico, a concepção ideal de amor é vista de forma platônica. No entanto, quando a figura da mulher, no modernismo, não é idealizada, enquanto no romântico há que ser perfeita, harmônica e de beleza absoluta.  




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