quarta-feira, 15 de março de 2017

CLASSICISMO/ QUINHENTISMO - PRE-VESTIBULAR- GAP

1. (Fuvest 2013)  Não mais, musa, não mais, que a lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza.

Luis de Camões. Os Lusíadas.

a) Cite uma característica típica e uma característica atípica da poesia épica, presentes na estrofe. Justifique.
b) Relacione o conteúdo dessa estrofe com o momento vivido pelo Império Português por volta de 1572, ano da publicação de Os Lusíadas. 
  
2. (Unicamp 2017)  Leia o soneto abaixo, de Luís de Camões.

Enquanto quis Fortuna que tivesse
esperança de algum contentamento,
o gosto de um suave pensamento
me fez que seus efeitos escrevesse.

Porém, temendo Amor que aviso desse
minha escritura a algum juízo isento,
escureceu-me o engenho com tormento,
para que seus enganos não dissesse.

Ó vós, que Amor obriga a ser sujeitos
a diversas vontades! Quando lerdes
num breve livro casos tão diversos,

verdades puras são, e não defeitos...
E sabei que, segundo o amor tiverdes,
Tereis o entendimento de meus versos!

Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000164.pdf. Acessado em 02/08/2016.


a) Nos dois quartetos do soneto acima, duas divindades são contrapostas por exercerem um poder sobre o eu lírico. Identifique as duas divindades e explique o poder que elas exercem sobre a experiência amorosa do eu lírico.
b) Um soneto é uma composição poética composta de 14 versos. Sua forma é fixa e seus últimos versos encerram o núcleo temático ou a ideia principal do poema. Qual é a ideia formulada nos dois últimos versos desse soneto de Camões, levando-se em consideração o conjunto do poema?
  
3. (Ufmg 2012)  Leia estes trechos:

TRECHO 1

Colombo sabe perfeitamente que as ilhas já têm nome, de uma certa forma, nomes naturais (mas em outra acepção do termo) as palavras dos outros, entretanto, não lhe interessam muito, e ele quer rebatizar os lugares em função do lugar que ocupam em sua descoberta, dar-lhes nomes justos a nomeação, além disso, equivale a tomar posse.

TODOROV, Tzevetan. A conquista da América, São Paulo: Martins Fontes, 1993. p. 27.

TRECHO 2

[...] e a quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam fura-buchos e neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, a saber: primeiramente dum grande monte mui alto e redondo, e de outras serras mais baixas ao sul dele, e de terra chã com grandes arvoredos: ao qual monte alto o Capitão pôs nome o Monte Pascoal, e à terra a Terra da Vera Cruz.

CAMINHA. Pero Vaz de. Carta ao Rei Dom ManueI. Belo Horizonte: Crisálida, 2002. p. 17.

Explicite, comparando os dois trechos, a relação existente entre os atos de nomear e tomar posse.
  
4. (Espcex (Aman) 2017)  Leia poesia a seguir.

Não indagues, Leucónoe

Não indagues, Leucónoe, ímpio é saber,
a duração da vida
que os deuses decidiram conceder-nos,
nem consultes os astros babilônios:
melhor é suportar
tudo o que acontecer.
[…]
Enquanto conversamos,
foge o tempo invejoso.
Desfruta o dia de hoje, acreditando
o mínimo possível no amanhã.

A segunda estrofe da poesia horaciana faz referência ao(s)
a) teocentrismo.   
b) amor cortês.   
c) feitos heroicos.   
d) carpe diem.   
e) amor platônico.   
  
5. (Espcex (Aman) 2017)  Leia o soneto a seguir e marque a alternativa correta quanto à proposição apresentada.

Se amor não é qual é este sentimento?
Mas se é amor, por Deus, que cousa é a tal?
Se boa por que tem ação mortal?
Se má por que é tão doce o seu tormento?

Se eu ardo por querer por que o lamento
Se sem querer o lamentar que val?
Ó viva morte, ó deleitoso mal,
Tanto podes sem meu consentimento.

E se eu consinto sem razão pranteio.
A tão contrário vento em frágil barca,
Eu vou por alto-mar e sem governo.

É tão grave de error, de ciência é parca
Que eu mesmo não sei bem o que eu anseio
E tremo em pleno estio e ardo no inverno.

O artista do Classicismo, para revelar o que está no universo, adota uma visão
a) subjetiva.   
b) idealista.   
c) racionalista.   
d) platônica.   
e) negativa.   

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Do Brasil descoberto esperavam os portugueses a fortuna fácil de uma nova Índia. Mas o pau-brasil, única riqueza brasileira de simples extração antes da “corrida do ouro” do início do século XVIII, nunca se pôde comparar aos preciosos produtos do Oriente. (...) O Brasil dos primeiros tempos foi o objeto dessa avidez colonial. A literatura que lhe corresponde é, por isso, de natureza parcialmente superlativa. Seu protótipo é a carta célebre de Pero Vaz de Caminha, o primeiro a enaltecer a maravilhosa fertilidade do solo.

(MERQUIOR, José Guilherme. De Anchieta a Euclides − Breve história da literatura brasileira.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1977, p. 3-4)



6. (Puccamp 2017)  Uma vez que se considere que o conceito de literatura, compreendida como um autêntico sistema, supõe a presença ativa de escritores, a publicação de obras e a resposta de um público, entende-se que

I. ainda não ocorreu no Brasil a vigência plena de um sistema literário, capaz de expressar aspectos mais complexos de nossa vida cultural.
II. os primeiros documentos informativos sobre a terra a ser colonizada devem ser vistos como manifestações literárias esparsas, ainda não sistemáticas.
III. a carta de Caminha e os textos dos missionários jesuíticos fazem ver desde cedo a formação de um maduro sistema literário nacional.

Atende ao enunciado o que está APENAS em
a) I.    
b) II.    
c) III.   
d) I e II.   
e) II e III.    
  
7. (G1 - ifsp 2016)  A respeito do Quinhentismo no Brasil, marque (V) para verdadeiro ou (F) para falso e assinale a alternativa correta.

(     ) A principal obra do período foi A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, cuja temática era o índio brasileiro.
(     ) Consta que o primeiro texto escrito no território do Brasil foi a Carta de Pero Vaz de Caminha, em que registra suas impressões sobre a terra recém-descoberta.
(     ) Entre as publicações daquela época, encontram-se cânticos religiosos, poemas dos jesuítas, textos descritivos, cartas, relatos de viagem e mapas.
(     ) A produção das obras escritas naquele período apresenta um caráter informativo, documentos que descreviam as características do Brasil e eram enviados para a Europa.
a) V, V, V, F.   
b) F, V, F, V.   
c) F, V, V, F.   
d) V, F, V, V.   
e) F, V, V, V.   
  
8. (G1 - ifsp 2016)  Leia, abaixo, o fragmento da História da Província de Santa Cruz, de Pero de Magalhães Gândavo, para responder à questão.

Finalmente que como Deus tenha de muito longe esta terra dedicada à cristandade, e o interesse seja o que mais leva os homens trás si que nenhuma outra coisa haja na vida, parece manifesto querer entretê-los na terra com esta riqueza do mar até chegarem a descobrir aquelas grandes minas que a mesma terra promete, para que assim desta maneira tragam ainda toda aquela bárbara gente que habita nestas partes ao lume e ao conhecimento da nossa santa fé católica, que será descobrir-lhe outras minas maiores no céu, o qual nosso Senhor permita que assim seja, para glória sua, e salvação de tantas almas.

GÂNDAVO, Pero de Magalhães. História da Província de Santa Cruz. Org. Ricardo Martins Valle. Introd. e notas Ricardo Martins Valle e Clara Carolina Souza Santos. São Paulo: Hedra, 2008. p. 115.


A leitura atenta do texto permite afirmar que
a) nos textos de informação estavam consorciados o projeto de exploração das novas terras descobertas e o de difusão da fé cristã.   
b) o autor julga desinteressante a perspectiva de exploração mercantil do Brasil, preferindo a ela o projeto de difusão da fé cristã.   
c) o autor condena os homens ambiciosos e interesseiros, que preferem a exploração mercantil ao projeto abnegado de difusão da fé cristã.   
d) o autor condena a hipocrisia dos que afirmam empreender em nome da fé cristã, mas que apenas se interessam pelas “grandes minas” a descobrir.   
e) havia discrepância e dissenso entre o projeto de exploração das novas terras descobertas e o de difusão da fé cristã.   

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Para responder à(s) quest(ões) a seguir, considere o texto abaixo.

(...) os mitos e o imaginário fantástico medieval não foram subitamente subtraídos da mentalidade coletiva europeia durante o século XVI. (...) Conforme Laura de Mello e Sousa, “parece lícito considerar que, conhecido o Índico e desmitificado o seu universo fantástico, o Atlântico passará a ocupar papel análogo no imaginário do europeu quatrocentista”.

(VILARDAGA, José Carlos. Lastros de viagem: expectativas, projeções e descobertas portuguesas no Índico (1498-1554). São Paulo: Annablume, 2010, p. 197)


9. (Puccamp 2016)  Se no século XVI a presença de mitos e do imaginário fantástico se fazia notar nas artes e na literatura europeia, como em Os Lusíadas, de Camões, no Brasil isso não ocorria porque
a) as tendências literárias mais sistemáticas no país privilegiavam as formas clássicas.   
b) predominava entre nós a inclinação para as teses do Indianismo.   
c) nossas manifestações literárias consistiam em descrições informativas e textos religiosos.   
d) os jesuítas opunham-se a qualquer divulgação de literatura calcada em mitos pagãos.   
e) não era do interesse do colonizador permitir a difusão da alta cultura europeia entre nós.   

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Leia o soneto do poeta Luís Vaz de Camões (1525?-1580) para responder à(s) questão(ões).


Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
e a ela só por prêmio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
passava, contentando-se com vê-la;
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
lhe fora assi negada a sua pastora,
como se a não tivera merecida,

começa de servir outros sete anos,
dizendo: “Mais servira, se não fora
para tão longo amor tão curta a vida”.

(Luís Vaz de Camões. Sonetos, 2001.)


10. (Unifesp 2016)  Uma das principais figuras exploradas por Camões em sua poesia é a antítese. Neste soneto, tal figura ocorre no verso:
a) “mas não servia ao pai, servia a ela,”    
b) “passava, contentando-se com vê-la;”    
c) “para tão longo amor tão curta a vida.”   
d) “porém o pai, usando de cautela,”   
e) “lhe fora assi negada a sua pastora,”    
 
Gabarito: 

Resposta da questão 1:
 [Resposta do ponto de vista da disciplina de História]

b) Embora em 1572 o império português estivesse vivenciando seu auge, tornando-se verdadeiramente global, com uma rede de entrepostos que ligava Lisboa a Nagasaki, trazendo enormes riquezas para Portugal, o poeta, nesta estrofe, evidencia o paradoxo entre essa riqueza e a maneira como ela era obtida, através, especialmente, de “cobiça” e “rudeza”.

[Resposta do ponto de vista da disciplina de Português]

a) Na estrofe que faz parte do epílogo da epopeia “Os Lusíadas”, o poeta dirige-se às musas, declarando-se incapaz de continuar a fazer poesia devido ao ambiente de cobiça e insensibilidade social que o rodeia. A menção a figuras da mitologia é típica da poesia épica que narra os feitos heroicos de um povo de forma grandiloquente e usa a intervenção de seres sobrenaturais para engrandecimento da ação. Também os versos decassílabos dispostos em esquema rimático ABABABABCC refletem o rigor formal característico do Classicismo. No entanto, o tom decepcionado do poeta que, nesta estrofe, tece duras críticas ao aviltamento moral em que o país tinha mergulhado não é comum nas epopeias clássicas que se restringem a enaltecer virtudes e qualidades do herói coletivo.
b) No final do século XVI, Portugal atingiu o ponto mais alto da sua economia mercantilista decorrente da expansão marítima por todos os continentes. No entanto, uma crise dinástica que tem início no reinado de D. Sebastião e que se intensifica após sua morte na batalha de Alcácer-Quibir, provocará o início do declínio do Império e que se agravará com o domínio espanhol sobre Portugal até meados do século XVII.  

Resposta da questão 2:
 a) Nos dois quartetos do soneto “Enquanto quis Fortuna que tivesse”, o eu lírico menciona duas divindades, Fortuna e Amor, que irão interferir na sua experiência amorosa. Enquanto Fortuna (destino) permitiu que mantivesse esperanças de vir a ser feliz, o eu lírico teve inspiração para compor poemas, o que lhe foi negado assim que o Amor se instalou nele e, por temer que alguma revelação negativa sobre ele poderia ser divulgada, lhe tirou a capacidade de inspiração.
b) Os dois últimos versos do soneto são uma advertência do eu lírico às vítimas do Amor para que entendam que os seus poemas terão tanto mais sentido para os leitores, quanto mais profunda tiver sido a sua experiência amorosa.  

Resposta da questão 3:
 Além da acepção de “dar nome aos seres”, o verbo “nomear” pode ser entendido como designar alguém para um cargo, dar direito de posse. É com este sentido que Todorov Tzevetan o utiliza para analisar o comportamento do colonizador ao apoderar-se das terras que pertenciam a povos com culturas e linguagens diferentes. Ao substituir os nomes originais dos aborígines pelos dos dominadores, impõe-se ao dominado a necessidade do ensino da nova língua que passa a ser usada como instrumento para posse do novo território.  

Resposta da questão 4:
 [D]

A segunda estrofe remete à expressão latina “carpe diem” mencionada na alternativa [D]. Trata-se de um tema desenvolvido no poema de Horácio (65 a.C.-8 a.C.), em que o eu lírico aconselha a sua amiga Leucone (“...carpe diem, quam minimum credula postero" que traduzido corresponde a “...colha o dia de hoje e confie o mínimo possível no amanhã”) a aproveitar o tempo presente, sem pensar no futuro.  

Resposta da questão 5:
 [C]

A sucessão de indagações transcritas na primeira e metade da segunda estrofes do poema de Petrarca permite deduzir que o eu lírico busca, através de um raciocínio discursivo e lógico, extrair conclusões que lhe permitam entender a razão dos conflitos que o atormentam. Assim, é correta a alternativa [C], pois o racionalismo é, em parte, a base da Filosofia, que prioriza a razão no caminho para se alcançar a Verdade.  

Resposta da questão 6:
 [B]

As proposições [I] e [III] são incorretas, pois:

[I] a literatura brasileira é fértil de autores cujas obras são reveladoras da complexidade da vida cultural do país (Fogo Morto de José Lins do Rego; Seara Vermelha, de Jorge Amado; Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa; Vidas secas, de Graciliano Ramos; etc.).
[III] a carta de Pero Vaz de Caminha e os textos dos missionários jesuíticos fazem parte de um conjunto de obras que integram a chamada literatura de viagem e de catequese, respectivamente. Trata-se de testemunhos, cujos registros e observações tinham como objetivo informar o mundo sobre a realidade do Brasil da época, ou seja, não constituíam ainda uma expressão literária nacional.  

Resposta da questão 7:
 [E]

Joaquim Manuel de Macedo escreveu durante o Romantismo, e não Quinhentismo, o que faz com que a primeira afirmação esteja incorreta.
Todas as outras estão corretas. O Quinhentismo é o nome dado para todas as formas literárias que ocorreram no Brasil com a introdução da cultura europeia, no século XVI. Ele foi marcado, sobretudo, pela Literatura Informativa, que buscava, por meio de documentos escritos, informar aos europeus como era o Brasil. A primeira dessas manifestações foi a Carta de Caminha.  

Resposta da questão 8:
 [A]

Como podemos observar a partir do excerto de Pero de Magalhães, nos textos de informação sobre a colônia já havia marcas do projeto de exploração das terras e da difusão da fé cristã. Vemos que o autor fala sobre trazer o conhecimento da fé católica aos chamados “bárbaros”, referindo-se aos habitantes das novas terras. Além disso, menciona as riquezas da terra, já traçando um projeto de exploração.  

Resposta da questão 9:
 [C]

É correta a opção [C], pois, no século XVI, o objetivo da Literatura brasileira era meramente informativo ou catequético. Jesuítas, cronistas e viajantes portugueses produziram inúmeros textos sobre a terra recém-descoberta, como a “Carta de Pero Vaz de Caminha” (1500), além de poesias e autos religiosos com a finalidade de catequizar os índios, como “Do Santíssimo Sacramento” e “A Santa Inês”, de José Anchieta.  

Resposta da questão 10:
 [C]

O soneto “Sete anos de pastor Jacob servia” alicerça-se numa construção linear em que os quartetos expõem a narrativa, o primeiro terceto funciona como núcleo e o segundo, como remate. As palavras finais do soneto, em que se configura a antítese longo  curta, são pronunciadas pela própria personagem em estilo direto, manifestam o ânimo firme de Jacob, que exprime que estaria disposto a servir Labão ainda mais tempo para conseguir Raquel. Assim, é correta a opção [C].  


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