PROF.: SÉRGIO MONTEIRO
1. (Ufsc 2017) Os filhos chegaram tarde,
cada um por sua vez, e Pedro mais cedo que Paulo. A melancolia de um ia com a
alma da casa, a alegria de outro destoava desta, mas tais eram uma e outra que,
apesar da expansão da segunda, não houve repressão nem briga. Ao jantar,
falaram pouco. Paulo referia os sucessos amorosamente. Conversara com alguns
correligionários e soube do que se passara à noite e de manhã, a marcha e a
reunião dos batalhões no campo, as palavras de Ouro Preto ao Marechal Floriano,
a resposta deste, a aclamação da República. A família ouvia e perguntava, não
discutia, e esta moderação contrastava com a glória de Paulo. O silêncio de
Pedro principalmente era como um desafio. Não sabia Paulo que a própria mãe é
que o pedira ao irmão com muitos beijos, motivo que em tal momento ia com o
aperto do coração do rapaz.
ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. São Paulo: Ática, 1999, p. 119.
Com base no texto e na
leitura integral do romance de Machado de Assis, Esaú e Jacó, publicado pela primeira vez em 1904, é correto afirmar
que:
01) o romance de Machado de
Assis está situado dentro da escola literária do Realismo brasileiro e possui
como pano de fundo a transição do Império para a República, tendo referências
explícitas ao contexto histórico da época em que os fatos são narrados.
02) Esaú e Jacó vale-se de intertexto com a narrativa bíblica, seja em razão dos nomes
dos protagonistas, Pedro e Paulo, assim nomeados em referência aos apóstolos
homônimos, seja em virtude dos nomes dos personagens que dão título à obra.
04) o romance de Machado de
Assis ilustra um aspecto fundamental nas histórias literárias sobre irmãos
gêmeos, narrativas nas quais cada gêmeo possui uma personalidade diferente,
diametralmente oposta, sendo os irmãos frequentemente rivais na disputa por um
objeto amoroso.
08) em Esaú e Jacó, Machado de Assis pratica uma forma de intertexto ao
resgatar personagens presentes em outros de seus consagrados romances, como é o
caso de Dom Casmurro e os sujeitos
ficcionais Bentinho e Capitu.
16) Esaú e Jacó pode ser classificado como um romance histórico, muito embora o formato
apresentado seja o de um diário irônico e sagaz de Conselheiro Aires sobre a
implantação da República em território brasileiro, projeto considerado pelo
narrador como algo impossível dado o passado colonial, retrógrado e agrário do
país.
32) no romance de Machado de
Assis, a libertação dos escravos é um tema político sobre o qual os dois
irmãos, Pedro e Paulo, expressam mesma postura ideológica, momento em que se dá
uma trégua na rivalidade entre os dois.
2. (Unicamp 2017) O romance Memórias
póstumas de Brás Cubas é considerado um divisor de águas tanto na obra de
Machado de Assis quanto na literatura brasileira do século XIX. Indique a
alternativa em que todas as características mencionadas podem ser adequadamente
atribuídas ao romance em questão.
a) Rejeição dos valores
românticos, narrativa linear e fluente de um defunto autor, visão pessimista em
relação aos problemas sociais.
b) Distanciamento do
determinismo científico, cultivo do humor e digressões sobre banalidades, visão
reformadora das mazelas sociais.
c) Abandono das idealizações
românticas, uso de técnicas pouco usuais de narrativa, sugestão implícita de
contradições sociais.
d) Crítica do realismo
literário, narração iniciada com a morte do narrador-personagem, tematização de
conflitos sociais.
3. (Upe-ssa 2 2017) Texto 1
Tinha
dezessete anos; pungia-me um buçozinho que eu forcejava por trazer a bigode. Os
olhos, vivos e resolutos, eram a minha feição verdadeiramente máscula. Como
ostentasse certa arrogância, não se distinguia bem se era uma criança, com
fumos de homem, se um homem com ares de menino. Ao cabo, era um lindo garção,
lindo e audaz, que entrava na vida de botas e esporas, chicote na mão e sangue
nas veias, cavalgando um corcel nervoso, rijo, veloz, como o corcel das antigas
baladas, que o romantismo foi buscar ao castelo medieval, para dar com ele nas
ruas do nosso século. O pior é que o estafaram a tal ponto, que foi preciso
deitá-lo à margem, onde o realismo o veio achar, comido de lazeira e vermes, e,
por compaixão, o transportou para os seus livros.
Sim,
eu era esse garção bonito, airoso, abastado; e facilmente se imagina que mais
de uma dama inclinou diante de mim a fronte pensativa, ou levantou para mim os
olhos cobiçosos. De todas porém a que me cativou logo foi uma... uma... não sei
se diga; este livro é casto, ao menos na intenção; na intenção é castíssimo.
Mas vá lá; ou se há de dizer tudo ou nada. A que me cativou foi uma dama
espanhola, Marcela, a “linda Marcela”, como lhe chamavam os rapazes do tempo. E
tinham razão os rapazes. Era filha de um hortelão das Astúrias; disse-mo ela
mesma, num dia de sinceridade, porque a opinião aceita é que nascera de um
letrado de Madri, vítima da invasão francesa, ferido, encarcerado, espingardeado,
quando ela tinha apenas doze anos.
Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
Texto 2
Durante
dois anos, o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando forças, socando-se de
gente. E ao lado o Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal
de vida, aterrado defronte daquela floresta implacável que lhe crescia junto da
casa, por debaixo das janelas, e cujas raízes, piores e mais grossas do que
serpentes, minavam por toda a parte, ameaçando rebentar o chão em torno dela,
rachando o solo e abalando tudo. Posto que lá na Rua do Hospício os seus
negócios não corressem mal, custava-lhe a sofrer a escandalosa fortuna do
vendeiro “aquele tipo! um miserável, um sujo, que não pusera nunca um paletó, e
que vivia de cama e mesa com uma negra!”
À
noite e aos domingos, ainda mais recrudescia o seu azedume, quando ele,
recolhendo-se fatigado do serviço, deixava-se ficar estendido numa preguiçosa,
junto à mesa da sala de jantar, e ouvia, a contragosto, o grosseiro rumor que
vinha da estalagem numa exalação forte de animais cansados. Não podia chegar à
janela sem receber no rosto aquele bafo, quente e sensual, que o embebedava com
o seu fartum de bestas no coito.
E
depois, fechado no quarto de dormir, indiferente e habituado às torpezas
carnais da mulher, isento já dos primitivos sobressaltos que lhe faziam, a ele,
ferver o sangue e perder a tramontana, era ainda a prosperidade do vizinho o
que lhe obsedava o espírito, enegrecendo-lhe a alma com um feio ressentimento
de despeito.
Tinha
inveja do outro, daquele outro português que fizera fortuna, sem precisar roer
nenhum chifre; daquele outro que, para ser mais rico três vezes do que ele, não
teve de casar com a filha do patrão ou com a bastarda de algum fazendeiro
freguês da casa!
Mas
então, ele Miranda, que se supunha a última expressão da ladinagem e da
esperteza; ele, que, logo depois do seu casamento, respondendo para Portugal a
um ex-colega que o felicitava, dissera que o Brasil era uma cavalgadura
carregada de dinheiro, cujas rédeas um homem fino empolgava facilmente; ele,
que se tinha na conta de invencível matreiro, não passava afinal de um pedaço
de asno comparado com o seu vizinho! Pensara fazer-se senhor do Brasil e
fizera-se escravo de uma brasileira mal-educada e sem escrúpulos de virtude!
Imaginara-se talhado para grandes conquistas, e não passava de uma vítima
ridícula e sofredora!... Sim! no fim de contas qual fora a sua África?...
Enriquecera um pouco, é verdade, mas como? a que preço? hipotecando-se a um
diabo, que lhe trouxera oitenta contos de réis, mas incalculáveis milhões de
desgostos e vergonhas! Arranjara a vida, sim, mas teve de aturar eternamente
uma mulher que ele odiava! E do que afinal lhe aproveitar tudo isso? Qual era
afinal a sua grande existência? Do inferno da casa para o purgatório do
trabalho e vice-versa! Invejável sorte, não havia dúvida!
O Cortiço, de Aluízio de Azevedo
Considerando as
características temáticas e estilísticas dos textos 1 e 2, analise as
proposições a seguir.
I. O Texto 1 é um trecho de
um importante romance de Machado de Assis, o qual destaca episódios da vida do
próprio autor.
II. No Texto 1, é possível
perceber costumes do cotidiano burguês numa cidade do século XIX, levando o
leitor a constatar, pela postura individual do protagonista, um segmento social
dosado de humor nas suas próprias experiências.
III. No Texto 2, é
apresentado o comportamento decadente da sociedade burguesa da segunda metade
do século XIX, em que prevalece o interesse individual.
IV. As personagens de
Aluísio Azevedo, em O Cortiço, são alicerçadas nas ideias de Taine,
presas ao ambiente e à hereditariedade, limitadas pelas questões sociais e pelo
meio onde vivem suas experiências.
Estão CORRETAS:
a) I, II, III e IV.
b) I, III e IV, apenas.
c) II e III, apenas.
d) II, III e IV, apenas.
e) II e IV, apenas.
4. (Acafe 2017) “Diferentemente do Realismo
e do Naturalismo, que se voltavam para o exame e para a crítica da realidade, o
Parnasianismo representou na poesia um retorno ao clássico, com todos os seus
ingredientes: o princípio do belo na arte, a busca do equilíbrio e da perfeição
formal. Os parnasianos acreditavam que o sentido maior da arte reside nela
mesma, em sua perfeição, e não na sua relação com o mundo exterior.”
CEREJA; MAGALHÃES, 1999, p. 334.
Sobre o Parnasianismo,
assinale a alternativa correta.
a) Os maiores expoentes do
Parnasianismo, na poesia e na prosa, ocuparam-se da literatura indianista, na
qual exaltavam a dignidade do nativo e a beleza superior da paisagem tropical.
b) Um exemplo de poesia
parnasiana é a obra Suspiros poéticos e saudade, de Gonçalves de
Magalhães, na qual o poeta anuncia a revolução literária, libertando-se dos
modelos românticos, considerados ultrapassados.
c) Os parnasianos consideravam
que certos princípios românticos, como a simplicidade da linguagem, valorização
da paisagem nacional, emprego de sintaxe e vocabulário mais brasileiros,
sentimentalismo, tudo isso ocultava as verdadeiras qualidades da poesia.
d) Tomás Antônio Gonzaga e
Cláudio Manoel da Costa exemplificam a tendência de uma poesia pura,
indiferente às contingências históricas, com sátira à mestiçagem e elogio à
nobreza local.
5. (Fac. Pequeno Príncipe - Medici 2016) A construção narrativa da obra Dom Casmurro, de Machado
de Assis, atesta
a) sua relação com o Realismo,
considerando-se que o narrador-personagem, sem utilizar digressões e de forma
objetiva, elabora seus argumentos, mas expressa seu arrependimento pela
acusação feita.
b) sua circunscrição em um
discurso persuasivo, elaborado com objetividade, com evidências que comprovam o
adultério cometido.
c) a formulação de um enigma,
apresentado pela voz do narrador-personagem, em uma narrativa permeada de
ambiguidades.
d) a credibilidade do narrador
por sua isenção, imparcialidade e equilibrado distanciamento emocional dos
acontecimentos narrados.
e) a competência narrativa de
Bentinho, advogado, que utiliza termos jurídicos para argumentar e comprovar a traição de Capitu.
6. (Usf 2016) “Também conhecidos como
escolas, correntes ou movimentos, os períodos literários correspondem a fases
histórico-culturais em que determinados valores estéticos e ideológicos
resultam na criação de obras mais ou menos próximas no estilo e na visão de
mundo. Diferenciam-se do estilo de época por ter uma abrangência maior,
englobando circunstâncias como as condições do meio, as influências filosóficas
e políticas, etc.”
(Gonzaga, Sergius, Curso de literatura brasileira.
2.ª ed. – Porto Alegre: Leitura XXI, 2007. p.12)
A
partir da segmentação da produção literária nacional, como descrita por Sergius
Gonzaga no excerto acima, nos aspectos que se referem a contexto histórico,
características, autores e obras, é correto afirmar que
a) o Barroco surge do conflito
entre Teocentrismo e Antropocentrismo e tem como resultado uma poética
dicotômica e instável emocionalmente. Já a prosa barroca, expressa nos sermões
do Padre Vieira, não reflete esse conflito à medida que registra as relações
homem/entorno seguindo a ótica analítico-racional que deriva do pensamento
calcado na razão.
b) o Arcadismo apresenta o
primado do sentimento em detrimento da razão. Autores como Cláudio Manuel da
Costa e Tomás Antônio Gonzaga – este em especial na poesia lírica e épica –
antecipam o sentimentalismo amoroso que encontrará seu ápice no Romantismo. A
poesia dos autores citados vem impregnada, ainda, do forte senso de nação, de
onde derivará a vertente nacionalista de nossa poesia do século XIX.
c) o Romantismo brasileiro
apresenta divisão temática tanto na prosa quanto na poesia. Nesta, a produção
divide-se em três gerações: Indianista-Nacionalista; Ultrarromântica-Byroniana-Mal
do século e Social-Hugoana-Condoreira. A prosa se organiza sob as temáticas
indianista, histórica, regionalista e urbana, sendo que o autor que mais se
destaca nesses segmentos é Joaquim Manuel de Macedo.
d) o Realismo e o Naturalismo
são contemporâneos. Embora derivados do mesmo contexto, algumas das obras
sofreram as influências de correntes cientificistas – como Determinismo,
Positivismo, Marxismo, a Psicanálise de Freud – e apresentam características muito
particulares. No Realismo, há predomínio dos aspectos psicológicos sobre a
ação, e o Naturalismo apresenta a animalização do homem. Destacam-se Dom
Casmurro e O cortiço como grandes obras desses períodos.
e) O Modernismo no Brasil, à
maneira do Romantismo, é segmentado em três gerações, que se organizam
cronologicamente, a partir de 1922, quando da Semana de Arte Moderna, até os
dias de hoje, cuja produção retoma os princípios dos primeiros tempos
modernistas. Destaca-se, na produção modernista, a obra de João Guimarães Rosa,
Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Clarice Lispector, entre outros.
7. (Upe-ssa 2 2016) Machado de Assis e Aluísio
Azevedo, no mesmo ano, 1881, deram início, respectivamente, ao Realismo e
Naturalismo no Brasil. O primeiro, com Memórias Póstumas de Brás Cubas e
o segundo, com O Mulato, embora o Cortiço é que tenha celebrizado
o autor maranhense. Sobre esses movimentos literários, aos quais pertencem os
textos, leia o que se segue:
Texto 1
Ao
verme que primeiro roeu
as
frias carnes do meu cadáver
dedico
como saudosa lembrança
estas
Memórias Póstumas
|
Texto 2
Eram
cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade
de portas e janelas alinhadas.
Um acordar alegre e farto
de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda
na indolência de neblina as derradeiras notas da última guitarra da noite
antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro
de saudade perdido em terra alheia.
Roupa lavada, que ficara de
véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão
ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns
pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e triste, feita de
acumulações de espumas secas. Entretanto, das portas surgiam cabeças
congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das
ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar;
o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de
janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias; reatavam-se conversas
interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas
vinham choros abafados de crianças que ainda não andam. No confuso rumor que se
formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde,
grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos
saíam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e
os louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente,
espanejando-se à luz nova do dia.
Daí a pouco, em volta das
bicas, era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas.
Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que
escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se.
As mulheres precisavam já
prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez
dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o
alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao
contrário, metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas
e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das
latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e
sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças
ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali
mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das
hortas.
O rumor crescia,
condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam
vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. [...]
Analise as afirmativas a
seguir:
I. O texto 1 é a
dedicatória de Brás Cubas, que inicia suas memórias póstumas. Nessa obra, o
autor textual e narrador ironicamente dedica suas memórias aos vermes. Trata-se
de um aspecto inerente à estética romântica, uma vez que nela encontra-se
subjacente a ideia de morte.
II. No texto 2, o narrador
descreve o comportamento da coletividade que forma o Cortiço. Note-se que nele
há o privilégio do coletivo sobre o individual, elemento peculiar ao
Romantismo, o que não surpreende o leitor, dado que o autor abraçou tanto a
estética romântica quanto a realista.
III. Os dois textos, embora
escritos por autores diferentes, apresentam as mesmas tendências estéticas.
Ambos são realistas e criticam o comportamento da burguesia que vivia na
ociosidade explorando os menos favorecidos.
IV. O texto 1 tem por
narrador a personagem principal que conta a sua própria história e o faz com a
“tinta da galhofa e a pena da melancolia”, utilizando-se de um gracejo de tom
cômico, próximo do humor negro de origem inglesa.
V. No texto 2, o relato é
de um narrador observador que apresenta os acontecimentos de um ponto de vista
neutro, porque não se envolve nem faz parte da história narrada. Seu discurso
volta-se para a análise dos elementos deterministas e das patologias sociais, o
que faz de O Cortiço um texto naturalista.
Está CORRETO apenas
o que se afirma em
a) I e II.
b) IV e V.
c) I, II e III.
d) II e III.
e) I, II e IV.
8.
(Ufrgs 2015) Assinale a alternativa correta sobre a obra
de Machado de Assis.
a) O
primeiro
romance publicado por Machado de Assis foi Dom
Casmurro (1899), totalmente integrado à estética romântica, ao pôr em
evidência a história de amor entre Bentinho e Capitu.
b) Brás Cubas, o protagonista
do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, é um humanista
oriundo da classe trabalhadora, defensor dos direitos dos escravos.
c) Quincas Borba,
único romance de Machado de
Assis que apresenta narrador em primeira
pessoa, é narrado pelo próprio Quincas.
d) Várias histórias
reúne alguns dos principais contos de Machado
de Assis, entre eles A causa
secreta, que narra o prazer mórbido que sente
Fotunato ao presenciar o sofrimento alheio.
e) Helena
é um romance
da última fase de Machado de Assis, já integrado ao realismo,
na qual se destaca a ironia que
consagrou o autor.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
Texto para a(s)
questão(ões) a seguir
Algum tempo hesitei se devia abrir estas
memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu
nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento,
duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu
não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa
foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais
novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no
cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas
da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de
Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro,
possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze
amigos.
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
9.
(Fgvrj 2015) Ao configurar as Memórias
póstumas de Brás Cubas como narrativa em primeira pessoa, conforme
se verifica no trecho, Machado de Assis
a) deu um passo decisivo em
direção ao Realismo, adotando os procedimentos mais típicos dessa escola.
b) visa a criticar o
subjetivismo romântico e os excessos sentimentalistas em que este incorrera.
c) deu a palavra ao
proprietário escravista e rentista brasileiro do Oitocentos, para que ele próprio
exibisse sua desfaçatez.
d) parodia as Memórias
de um sargento de milícias, retomando o registro narrativo que as
caracterizava.
e) confere confiabilidade aos
juízos do narrador, uma vez que este conhece os acontecimentos de que
participou.
10.
(Enem 2014) Talvez pareça excessivo o
escrúpulo do Cotrim, a quem não souber que ele possuía um caráter ferozmente honrado.
Eu mesmo fui injusto com ele durante os anos que se seguiram ao inventário de
meu pai. Reconheço que era um modelo. Arguiam-no de avareza, e cuido que tinham
razão; mas a avareza é apenas a exageração de uma virtude, e as virtudes devem
ser como os orçamentos: melhor é o saldo que o déficit. Como era muito seco de
maneiras, tinha inimigos que chegavam a acusá-lo de bárbaro. O único fato
alegado neste particular era o de mandar com frequência escravos ao calabouço,
donde eles desciam a escorrer sangue; mas, além de que ele só mandava os
perversos e os fujões, ocorre que, tendo longamente contrabandeado em escravos,
habituara-se de certo modo ao trato um pouco mais duro que esse gênero de
negócio requeria, e não se pode honestamente atribuir à índole original de um
homem o que é puro efeito de relações sociais. A prova de que o Cotrim tinha
sentimentos pios encontrava-se no seu amor aos filhos, e na dor que padeceu
quando morreu Sara, dali a alguns meses; prova irrefutável, acho eu, e não
única. Era tesoureiro de uma confraria, e irmão de várias irmandades, e até
irmão remido de uma destas, o que não se coaduna muito com a reputação da
avareza; verdade é que o benefício não caíra no chão: a irmandade (de que ele
fora juiz) mandara-lhe tirar o retrato a óleo.
ASSIS, M. Memórias póstumas
de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.
Obra que inaugura
o Realismo na literatura brasileira, Memórias póstumas de Brás
Cubas condensa uma expressividade que
caracterizaria o estilo machadiano: a ironia. Descrevendo a moral de seu
cunhado, Cotrim, o narrador-personagem Brás Cubas refina a percepção irônica ao
a) acusar
o cunhado de ser avarento para confessar-se injustiçado na divisão da herança
paterna.
b) atribuir
a “efeito de relações sociais” a naturalidade, com que Cotrim prendia e
torturava os escravos.
c) considerar
os “sentimentos pios” demonstrados pelo personagem quando da perda da filha
Sara.
d) menosprezar
Cotrim por ser tesoureiro de uma confraria e membro remido de várias
irmandades.
e) insinuar
que o cunhado era um homem vaidoso e egocêntrico, contemplado com um retrato a
óleo.
11.
(Espcex (Aman) 2013) Considerando a imagem da
mulher nas diferentes manifestações literárias, pode-se afirmar que
a) nas cantigas de amor,
originárias da Provença, o eu-lírico é feminino, mostrando o outro lado do
relacionamento amoroso.
b) no Arcadismo, a louvação da
mulher é feita a partir da escolha de um aspecto físico em que sua beleza se
iguale à perfeição da natureza.
c) no Realismo, a mulher era
idealizada como misteriosa, inatingível, superior, perfeita, como nas cantigas
de amor.
d) a mulher moderna é
inferiorizada socialmente e utiliza a dissimulação e a sedução, muitas vezes
desencadeando crises e problemas.
e) a mulher barroca foi
apresentada como arquétipo da beleza, evidenciando o poder por ela conquistado,
enquanto os homens viviam uma paz espiritual.
12.
(Unb 2012) O emplasto
Um dia de manhã, estando a passear na
chácara, 3pendurou-se-me uma ideia no trapézio que eu tinha no
cérebro.
Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a
pernear, a fazer as mais 1arrojadas cambalhotas. Eu deixei-me estar
a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, 4até
tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te.
Essa ideia era nada menos que a invenção de
um medicamento sublime, um emplasto anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a
nossa melancólica humanidade.
6Na petição de privilégio
que então redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado,
verdadeiramente cristão. Todavia, não neguei aos amigos as vantagens
pecuniárias que deviam resultar da distribuição de um produto de tamanhos e tão
profundos efeitos. Agora, porém, que estou cá do outro lado da vida, posso
confessar 7tudo: o que me influiu principalmente foi o gosto de 9ver
impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas e, enfim, nas caixinhas
do remédio, 8estas três palavras: Emplasto Brás Cubas. Para que
negá-lo? Eu tinha a paixão do arruído, do cartaz, do foguete de lágrimas.
Talvez os 11modestos me arguam esse defeito; fio, porém, que esse
talento me 10hão de reconhecer os 12hábeis. Assim, 5a
minha ideia trazia duas faces, como as medalhas, uma virada para o público,
outra para mim. De um lado, filantropia e lucro; de outro, 2sede de
nomeada. Digamos: — amor da glória.
Um tio meu, cônego de prebenda inteira,
costumava dizer que o amor da glória temporal era a perdição das almas, que só
devem cobiçar a glória eterna. 13Ao que retorquia outro tio, oficial
de um dos antigos terços de infantaria, que o amor da glória era a coisa mais
verdadeiramente humana que há no homem e, consequentemente, a sua mais genuína
feição.
Decida o leitor entre o militar e o cônego;
eu volto ao emplasto.
Machado de
Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas.
Obra completa, v. I. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992, p. 514-5 (com
adaptações).
Com relação ao texto acima, à obra Memórias Póstumas de Brás Cubas e a
aspectos por eles suscitados, julgue os itens subsequentes.
a) O compromisso do narrador com a verdade
dos fatos, honestidade decorrente da vida além-túmulo, e o seu interesse pela
ciência e pela filosofia aproximam a narrativa de Memórias Póstumas de Brás Cubas da forma de narrar do Naturalismo,
ou seja, da descrição objetiva da realidade.
b) As “arrojadas cambalhotas” (ref. 1) da
ideia inventiva de Brás Cubas relacionam-se à forma como Machado de Assis
compôs esse romance, no qual o narrador intercala a narrativa de suas memórias
com divagações acerca de temas diversos, o que produz constante vaivém na
condução do enredo.
c) A narrativa das diferentes faces de uma
mesma ideia expressa a singularidade do realismo machadiano, que ultrapassa as
convenções realistas — focadas em desvelar as razões econômicas das causas
humanitárias — e alcança dimensão mais profunda: a de desnudar o cinismo com
que filantropia e lucro são reduzidos a caprichos do defunto autor em sua “sede
de nomeada” (ref. 2).
d) A partir de Memórias Póstumas de Brás Cubas, o conjunto da obra machadiana
divide-se em duas fases: a primeira é constituída por obras em que o foco
narrativo é em terceira pessoa e o tema revela interesse pela sorte dos pobres,
como em Helena, por exemplo; a
segunda é formada de obras construídas a partir da perspectiva do
narrador-personagem associado à classe dominante local, a exemplo de Dom Casmurro.
e) No trecho “pendurou-se-me uma ideia no
trapézio que eu tinha no cérebro” (ref. 3), a combinação dos pronomes “se” e
“me” exemplifica a variante padrão da língua portuguesa à época do texto. No
que se refere ao português contemporâneo, uma estrutura equivalente que
manteria a ênfase no sujeito da oração e a correção gramatical seria a
seguinte: uma ideia pendurou-se no trapézio que eu tinha em meu cérebro.
f) Se considerada a noção de signo
linguístico no trecho “até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te”
(ref. 4), observa-se uma relação não arbitrária entre o significado de “X” e o
seu significante, assim como acontece com o signo “ideia” no trecho “a minha
ideia trazia duas faces, como as medalhas” (ref. 5).
g) No trecho “Na petição de privilégio que
então redigi” (ref. 6), o pronome tem a função de complemento do verbo.
h) O termo “tudo” (ref. 7) especifica e
resume as ideias evocadas na estrutura após o sinal de dois-pontos.
i) O termo “estas três palavras” (ref. 8) é
complemento direto de “ver” (ref. 9) e sintetiza o termo coordenado que antecede
essa expressão.
j) Em “hão de reconhecer” (ref. 10), o verbo
auxiliar denota tempo futuro e de obrigatoriedade de ação, o que ratifica, no
nível estrutural, a oposição postulada pelo autor entre “modestos” (ref. 11) e
“hábeis” (ref. 12).
k) No texto, o vocábulo “sede” (ref. 2)
significa ânsia, desejo e distingue-se de sede, local onde funciona a
representação principal de firma ou empresa. No que se refere a esses dois
vocábulos, o acento tônico é o recurso da língua com capacidade de discriminar
os significados distintos.
l) No trecho “Ao que retorquia outro tio,
oficial” (ref. 13), observa-se oração adjetiva como elemento modificador do
aposto, que inicia o período.
13.
(Espcex (Aman) 2011) Quanto à Literatura
Brasileira, assinale a alternativa correta.
a) Os escritores românticos,
contrários aos árcades, buscavam uma forma mais objetiva de descrever a
realidade, revelando os costumes, as relações sociais, a crise das instituições
etc.
b) O racionalismo é uma
característica presente tanto no Arcadismo, quanto no Realismo, em
contraposição ao Barroco e ao Romantismo, respectivamente.
c) A publicação de “O Cortiço”,
de Aluísio Azevedo, em 1881, marca oficialmente o início do Realismo no Brasil.
d) A linguagem objetiva, a
perfeição formal e o universalismo são características presentes na poesia
barroca.
e) Amor, solidão, pátria,
índio, medievalismo são temas igualmente presentes na poesia épica de Gonçalves
Dias e Castro Alves.
14.
(Cesgranrio 2011) Dentre as correlações a
seguir, aquela que associa corretamente o movimento literário à sua
característica é
a) Concretismo – valorização
do espaço gráfico como elemento estruturador do poema conjugada à sintaxe
tradicional para enfatizar o lirismo do poeta.
b) Realismo – retratação da
realidade contemporânea, apresentando tipos concretos, vivos, não idealizados,
na ânsia de apresentar uma visão patológica do homem, reduzindo-o a simples
animal.
c) Parnasianismo – movimento
eminentemente poético em que se observam o alheamento a problemas sociais, o
culto da forma e poesias excessivamente descritivas, num enfoque objetivo e
impessoal.
d) Simbolismo – expressão
direta e precisa de ideias e emoções na retratação da realidade, além da
obsessão pela musicalidade e pela busca da essência do ser humano: a alma.
e) Romantismo – movimento
literário que, em sua concepção primeira de traduzir a arte pela arte, evade-se
na aspiração por outro mundo, o mundo idealizado, o que se configura numa
estrutura formal rígida.
15.
(Ifsp 2011) Considere os textos.
Tinham
uma perspectiva biológica do mundo reduzindo, muitas vezes, o homem à condição
animal, colocando o instinto sobre a razão. Os aspectos desagradáveis e
repulsivos da condição humana são valorizados, como uma forma de reação ao
idealismo romântico.
(OLIVEIRA,
Clenir Bellezi de. Arte literária: Portugal / Brasil. São Paulo:
Moderna, 1999.)
A
sociedade é um grande laboratório onde o ser humano é observado agindo por
instinto e, portanto desprovido de livre-arbítrio.
Assinale a alternativa que informa o período
literário a que o texto se refere, um autor do mesmo período e sua respectiva
obra.
a) Realismo, Machado de Assis,
Dom Casmurro.
b) Naturalismo, Aluísio
Azevedo, O Cortiço.
c) Simbolismo, Cruz e Souza, Missal
e Broquéis.
d) Modernismo, Jorge Amado, Capitães
da Areia.
e) Pós-modernismo, Guimarães
Rosa, Grande Sertão: Veredas.
16. (Pucpr 2009) Sobre "Dom Casmurro", de Machado de Assis, leia as afirmações
a seguir e depois assinale a alternativa CORRETA:
I.
A obra mais conhecida de Machado de Assis tem como temática o adultério
feminino, a exemplo de outras narrativas suas contemporâneas.
II.
O ciúme foi a causa da separação de Bentinho e Capitu, pois o fato de que
Ezequiel é filho de Bentinho fica comprovado na narrativa.
III.
Ao criticar a sociedade de seu tempo, Machado de Assis desnuda as relações
interpessoais, sempre egoístas, como acontece com Bentinho e Capitu.
IV.
Capitu, a mulher dissimulada, de olhos de cigana oblíqua, não consegue
dissimular sua dor, por ocasião da morte de Escobar.
V.
Dom Casmurro é o marco inicial do Realismo brasileiro, de que Machado de Assis
é o maior representante.
a) As
afirmações I, III e IV estão corretas.
b) As
afirmações II, III e V estão corretas.
c) Somente
a afirmação I está correta.
d) Somente
a afirmação V está errada.
e) Nenhuma
das afirmações acima está errada.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
TEXTO
Assim se explicam a minha estada
debaixo da janela de Capitu e a passagem de um cavaleiro, um dandy, 3como
então dizíamos. Montava um belo cavalo alazão, firme na sela, rédea na mão
esquerda, a direita à cinta, botas de verniz, figura e postura esbeltas: a cara
não me era desconhecida. 1Tinham passado outros, e ainda outros 2viriam
atrás; todos iam às suas namoradas. Era uso do tempo namorar a cavalo. Relê
Alencar: "Porque um estudante (dizia um dos seus personagens de teatro de
1858) não pode estar sem estas duas coisas, um cavalo e uma namorada".
Relê Álvares de Azevedo. Uma das suas poesias é destinada a contar (1851) que
residia em Catumbi, e, para ver a namorada no Catete, alugara um cavalo por
três mil-réis...
Machado de Assis. Dom Casmurro.
17. (Fuvest 2009) Considerando-se o excerto no contexto da obra a que pertence, pode-se
afirmar corretamente que as referências a Alencar e a Álvares de Azevedo
revelam que, em "Dom Casmurro", Machado de Assis:
a) expôs,
embora tardiamente, o seu nacionalismo literário e sua consequente recusa de
leituras estrangeiras.
b) negou
ao Romantismo a capacidade de referir-se à realidade, tendo em vista o hábito
romântico de tudo idealizar e exagerar.
c) recusou,
finalmente, o Realismo, para começar o retorno às tradições românticas que irá
caracterizar seus últimos romances.
d) declarou
que o passado não tem relação com o presente e que, portanto, os escritores de
outras épocas não mais merecem ser lidos.
e) utilizou,
como em outras obras suas, elementos do legado de seus predecessores locais,
alterando-lhes, entretanto, contexto e significado.
18. (Uece 2008) Sobre o Realismo, assinale o INCORRETO.
a) O
Realismo na Literatura manifesta-se na prosa. A poesia da época vive o
Simbolismo.
b) O
romance - social, psicológico e de tese - é a principal forma de expressão do
Realismo.
c) O
romance realista deixa de ser apenas distração e torna-se veículo de crítica a
instituições, como a Igreja Católica, e à hipocrisia burguesa.
d) A
escravidão, os preconceitos raciais e a sexualidade são os principais temas,
tratados com linguagem clara e direta.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
NOTÍCIA DA ATUAL LITERATURA BRASILEIRA - INSTINTO
DE NACIONALIDADE
Quem examina a atual literatura
brasileira reconhece-lhe logo, como primeiro traço, certo instinto de
nacionalidade. Poesia, romance, todas as formas literárias do pensamento buscam
vestir-se com as cores do país, e não há negar que semelhante preocupação é
sintoma de vitalidade e abono de futuro.
As tradições de Gonçalves Dias,
Porto Alegre e Magalhães são assim continuadas pela geração já feita e pela que
ainda agora madruga, como aqueles continuaram as de José Basílio da Gama e
Santa Rita Durão. Escusado é dizer a vantagem deste universal acordo.
Interrogando a vida brasileira e a natureza americana, prosadores e poetas
acharão ali farto manancial de inspiração e irão dando fisionomia própria ao
pensamento nacional.
Esta outra independência não tem
Sete de Setembro nem campo de Ipiranga; não se fará num dia, mas pausadamente,
para sair mais duradoura; não será obra de uma geração nem duas; muitos
trabalharão para ela até perfazê-la de todo.
(Machado de Assis, Crítica. Texto adaptado.)
19. (Fatec 2008) Assinale a alternativa que interpreta corretamente o texto.
a) O
texto afirma uma literatura nacionalista que tem suas raízes na Proclamação da
Independência, episódio inspirador de obras de muitas gerações.
b) Com
a metáfora presente em - "As tradições [...] são assim continuadas pela geração
já feita e pela que ainda agora madruga" - Machado critica a tradição de
valorizar o passado, presente em escritores brasileiros.
c) Há,
no texto, uma concepção de literatura que privilegia a escolha de temas da
História pátria, como é o caso de obras que exaltam o Sete de Setembro.
d) Para
o autor, as raízes do Realismo remontam às obras dos autores que ele menciona e
cujos textos trazem as teses realistas mais importantes.
e) Machado
de Assis entende o instinto de nacionalidade na literatura brasileira como
autonomia de ideias em relação a temas importados, a qual se constrói
paulatinamente.
20. (Pucpr 2007) Sobre o Realismo, assinale a alternativa INCORRETA.
a) O
Realismo e o Naturalismo têm as mesmas bases, embora sejam movimentos
diferentes.
b) O
Realismo surgiu como consequência do cientificismo do século XIX.
c) O
Realismo surgiu na Europa, como reação ao Naturalismo.
d) Gustave
Flaubert foi um dos precursores do Realismo. Escreveu "Madame
Bovary".
e) Emile
Zola escreveu romances de tese e influenciou escritores brasileiros.
Gabarito:
Resposta da questão 1:
01 + 02 + 04 = 07.
01 + 02 + 04 = 07.
Estão incorretas as
afirmativas:
[08] A intertextualidade em
Esaú e Jacó (1904) se dá em relação
aos personagens bíblicos e também pelo personagem Conselheiro Aires, que será
protagonista de uma obra publicada posteriormente por Machado de Assis, em
1908: Memorial de Aires.
[16] Esaú e Jacó narra a história de dois irmãos que rivalizam e
defendem posições políticas divergentes, um é monarquista, o outro republicano.
Por meio dessa obra, Machado de Assis retrata o período equivalente às vésperas
da Proclamação da República no Brasil.
[32] No
capítulo XXXVII, “Desacordo no acordo”, Pedro e Paulo mostram-se favoráveis à
abolição dos escravos, mas por razões diferentes: “para Pedro era um ato de
justiça, e para Paulo era o início da revolução”.
Resposta da questão 2:
[C]
[C]
A alternativa
[C] é a única que possui todos os elementos corretos sobre o romance.
Memórias póstumas de Brás Cubas de
fato rompe com a tradição romântica. É considerado um marco do Realismo no
Brasil por, entre outras coisas, narrar o romance entre Brás Cubas e Marcela de
maneira cínica, já que o dinheiro desempenha um importante papel na conquista.
Ao adotar como narrador um defunto autor – Brás Cubas –, o autor muitas vezes
produz interferências na linearidade narrativa, sobretudo por meio de
digressões. As contradições sociais são sugeridas, por exemplo, pelo casamento
de aparências mantido por Virgília com Lobo Neves e pelas relações que o
protagonista – membro da classe alta – mantém com outros personagens menos
privilegiados social e economicamente.
Resposta da
questão 3:
[D]
[D]
[I] Falsa. O narrador de Memórias
Póstumas de Brás Cubas é o defunto-autor, Brás Cubas, e não o autor,
Machado de Assis.
[II]
Verdadeira. Brás Cubas representa a ociosidade da elite brasileira do século
XIX. Ironicamente, mostra-se como um charmoso moço, porém seduzido pela “bela
Marcela”, uma prostituta.
[III]
Verdadeira. Miranda representa a elite brasileira, o português que veio ao
Brasil para enriquecer; no entanto, assume invejar seu vizinho, outro
português, que enriqueceu sem precisar se casar com uma mulher adúltera para
alcançar seus objetivos.
[IV] Verdadeira. O Cortiço é
um romance de tese apoiado no Determinismo: os indivíduos têm seu comportamento
pré-determinado por elementos mesológicos (é o caso de Jerônimo, que se
abrasileira ao conviver no cortiço com os brasileiros), genéticos (é o caso da
sedutora Rita Baiana, brasileira) e sociais (a necessidade de enriquecer para
atender a padrões impostos pela sociedade, como ocorre com Miranda e João
Romão).
Resposta da questão 4:
[C]
[C]
É correta a
opção [C], pois o Parnasianismo surgido no Brasil na década de 80 do século
XIX, impôs novos parâmetros e valores artísticos, propondo a restauração da
poesia clássica, desprezada pelos românticos.
Resposta da questão 5:
[C]
[C]
[A] Incorreta. Um dos
principais pontos da narrativa machadiana em sua fase adulta é a digressão.
[B] Incorreta. Apesar de
considerado introdutor do Realismo no Brasil com Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Machado de Assis faz uso da
subjetividade por intermédio de um narrador em 1ª pessoa, memorialista, para
tentar convencer o leitor a respeito do adultério de Capitu.
[C] Correta. Ao considerar
a subjetividade, o discurso e o comportamento do narrador, percebe-se que Dom Casmurro é um grande enigma da
Literatura Brasileira a respeito do adultério de Capitu.
[D] Incorreta. Por ser
narrado em 1ª pessoa, não há possibilidade de isenção, imparcialidade ou
distanciamento em relação aos acontecimentos narrados.
[E]
Incorreta. Bentinho não narra Dom
Casmurro: esse é o nome adotado por Bento Santiago durante sua infância e
adolescência. O narrador, já idoso, apresenta seu ponto de vista de modo
memorialista.
Resposta da questão 6:
[D]
[D]
A alternativa
correta é a [D], pois tanto o Realismo quanto o Naturalismo se desenvolveram a
partir da segunda metade do século XIX e foram influenciados sobremaneira pela
profusão de teorias científicas da época.
Resposta da questão 7:
[B]
[B]
I. Incorreto. Memórias Póstumas de Brás Cubas
contraria a estética romântica; no trecho em questão, a imagem dos vermes
causam repulsa e este é um dos aspectos adotados por obras realistas e
naturalistas – ainda que a narrativa não seja propriamente realista ou
naturalista.
II. Incorreto. O Realismo,
como reação ao Romantismo, privilegia o coletivo em detrimento ao individual.
III. Incorreto. Memórias Póstumas de Brás Cubas é uma
obra de difícil classificação, apesar de conter aspectos realistas e
naturalistas. Já O Cortiço é uma obra
naturalista; seguindo tal estética, seu foco principal não é criticar a
exploração dos menos favorecidos pela elite, e sim defender a influência que o
meio exerce nos indivíduos que nele estão inseridos.
IV. Correto. O próprio Brás
Cubas faz referência, no enredo, ao escritor inglês Sterne: assume adotar o
estilo livre do autor, caracterizado pelo humor negro.
V. Correto.
Assim como preza um romance de tese, Aluísio Azevedo optou por um narrador em
3ª pessoa, isento, portanto, do filtro da subjetividade. Desse modo, demonstra
capacidade analítica, recorrendo ao Determinismo para explicar o modo de vida
dos personagens.
Resposta da questão 8:
[D]
[D]
[A]
Incorreta. O primeiro romance escrito por Machado de Assis foi Ressurreição, em 1872.
[B] Incorreta. O
protagonista de Memórias Póstumas de Brás
Cubas é o próprio narrador, um defunto-autor. Em vida, Brás não exerceu
qualquer atividade remunerada, vivendo da herança deixada por seus pais. Aliás,
no último capítulo, “Das Negativas”, Brás orgulha-se: “coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu
rosto”.
[C] Incorreta. Quincas Borba é narrado em 3ª pessoa.
[D] Correta. Várias histórias data de 1896, formado
por 16 contos publicados anteriormente no jornal Gazeta de Notícias. Dentre
eles, está “A causa secreta”, cujo enredo confere com o enunciado.
[E] Incorreta. Helena é o
terceiro romance de Machado, publicado em 1876, portanto ainda na primeira fase
da carreira do autor.
Resposta da questão 9:
[C]
[C]
Brás Cubas,
protagonista e narrador da obra, pertencia à elite carioca do século XIX. Nunca
trabalhou (era rentista, ou seja, vivia de renda) e possuía escravos. Durante a
leitura, não é difícil para o leitor perceber a falta de caráter e as
incoerências de discurso do personagem: por exemplo, ao encontrar um amigo de
infância, Quincas Borba, na mendicância, Brás Cubas faz apologia ao trabalho,
de maneira moralista. Tal atitude é extremamente cínica, uma vez que ele, como
afirma no último capítulo da obra, teve a “boa fortuna de não comprar o pão com
o suor do seu rosto”.
Resposta da questão 10:
[B]
[B]
Das mais
nobres e raras marcas da linguagem machadiana é a sutileza, a ironia descrita
por sugestões, em geral, atitudes condenáveis moralmente, mas descritas
com polidez, ainda que sórdidas, como a de torturar escravos, martirizá-los
enquanto os contrabandeava em navios, àquela época, prática já proibida.
Resposta da questão 11:
[B]
[B]
As opções
[A], [C], [D] e [E] são incorretas, pois
[A] nas cantigas de amor, o
eu lírico é masculino;
[C] a idealização é típica
do Romantismo;
[D] o amor, o casamento, a
relação homem e mulher são questões abordadas no Modernismo, questionamentos
que provocam reconhecimento e valorização da mulher no espaço social da época;
[E] a estética barroca nega
a concepção da figura do ser perfeito típico do Classicismo e apresenta a
mulher como alguém dual, merecedora de elogios e também de críticas.
Assim, é correta
apenas [B].
Resposta da questão 12:
a) Incorreto.
a) Incorreto.
b) Correto.
c) Correto.
d) Correto.
e) Correto.
f) Incorreto.
g) Correto.
h) Incorreto.
i) Incorreto.
j) Incorreto.
k) Incorreto.
l) Correto.
Não são verdadeiras as avaliações
respeitantes aos itens [A], [F], [H], [I], [J] e [K], pois:
Em [A], a narrativa de Memórias Póstumas de Brás
Cubas representa a vertente realista de cunho psicológico, a qual, ao invés de
descrever a sociedade objetiva e detalhadamente, se concentra na visão de mundo
de seus personagens, expondo suas contradições. Assim, não se preocupa com a
veracidade dos fatos, uma vez que pretende apenas gerar reflexões sobre o
conflito da essência do ser humano frente às circunstâncias do mundo que o
cerca.
Em [F], chama-se de
“arbitrário” o sinal linguístico que nada contém em si mesmo da ideia que
representa, estando o seu significado determinado pela relação que mantém com
outros sinais. Ora os trechos citados constituem uma alegoria que explica a
decisão de Brás Cubas em inventar o emplastro: a ideia transforma-se em figura
humana e esta, na letra enigmática de um X, estabelecendo a incógnita cuja
decifração depende exclusivamente do narrador. Assim, o sinal linguístico X não
pode ser considerado “não arbitrário”.
Em [H], as funções
especificativas ou resumitivas são determinadas pelo aposto, sempre relacionado
com termos anteriores. Assim, a estrutura enunciada depois dos dois pontos é
que especifica o termo “tudo” e não o contrário;
Em [I], o termo “estas três palavras” constitui um
objeto direto com um único núcleo, portanto, não coordenado. As três palavras
referidas serão mencionadas a seguir no aposto enumerativo “Emplasto Brás
Cubas”.
Em [J], o verbo auxiliar denota tempo futuro e de
obrigatoriedade, mas não está relacionado estruturalmente à oposição “modestos
e “hábeis”. O narrador atribui a capacidade de percepção do seu talento apenas
aos “hábeis”, inteligentes e astutos.
Em [K], ambas
as palavras são paroxítonas, portanto, não é o acento tônico que as diferencia,
mas sim o timbre da vogal tônica “e” que
é fechado em sede quando significa ânsia, desejo e aberto em sede, local onde
funciona a representação principal de firma ou empresa.
Resposta da questão 13:
[B]
[B]
As
características enunciadas em a) são típicas do Realismo e não do Romantismo, e
as apresentadas em d), do Classicismo e não do Barroco. São incorretas as
afirmações em c) e e), pois Aluísio Azevedo inicia o Naturalismo no Brasil em
1881 com a obra “O Mulato” e os temas apresentados em e) dizem respeito a dois
momentos do Romantismo brasileiro: 1ª Geração- pátria, índio, medievalismo-
Gonçalves Dias e 2ª Geração- amor-solidão- Álvares de Azevedo. Embora o tema
amor e a solidão estejam também presentes na obra de Gonçalves Dias e Castro
Alves, não podem ser incluídas no gênero épico da poesia.
Resposta da questão 14:
[C]
[C]
A única opção
correta é c) que apresenta características do Parnasianismo. O Concretismo
valoriza o espaço gráfico, mas transgride a sintaxe tradicional ao decretar o
fim do verso e sua substituição por um signo verbivocovisual. Realismo é um
termo genérico de um movimento artístico que retrata a realidade, mas nem
sempre com intenção de apresentar a visão patológica do homem, como acontece na
vertente Naturalista. O Simbolismo tem como característica principal a sugestão
das ideias e das emoções, através de uma linguagem hermética, uso de
sinestesias e vocabulário erudito. O Romantismo tem como característica a
valorização do eu, das emoções, o uso da imaginação e a liberdade formal.
Resposta da questão 15:
[B]
[B]
O
escritor que melhor representa a corrente literária do naturalismo brasileiro é
Aluísio Azevedo. Os naturalistas acreditavam que o indivíduo é mero produto da
hereditariedade e seu comportamento é fruto do meio em que vive e sobre o qual
age. A perspectiva evolucionista de Charles Darwin inspirava os naturalistas,
que acreditavam ser a seleção natural impulsionadora da transformação das
espécies. Assim,
predomina nesse tipo de romance o instinto, o fisiológico e o natural,
retratando a agressividade, a violência, o erotismo como elementos que compõem
a personalidade humana.
Resposta da questão 16:
[A]
[A]
Resposta da questão 17:
[E]
[E]
Resposta da questão 18:
[A]
[A]
Resposta da questão 19:
[E]
[E]
Resposta da questão 20:
[C]
[C]
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