segunda-feira, 1 de maio de 2017

REALISMO/NATURALISMO- VESTIBULANDOS

PROF.: SÉRGIO MONTEIRO
1. (Ufsc 2017)  Os filhos chegaram tarde, cada um por sua vez, e Pedro mais cedo que Paulo. A melancolia de um ia com a alma da casa, a alegria de outro destoava desta, mas tais eram uma e outra que, apesar da expansão da segunda, não houve repressão nem briga. Ao jantar, falaram pouco. Paulo referia os sucessos amorosamente. Conversara com alguns correligionários e soube do que se passara à noite e de manhã, a marcha e a reunião dos batalhões no campo, as palavras de Ouro Preto ao Marechal Floriano, a resposta deste, a aclamação da República. A família ouvia e perguntava, não discutia, e esta moderação contrastava com a glória de Paulo. O silêncio de Pedro principalmente era como um desafio. Não sabia Paulo que a própria mãe é que o pedira ao irmão com muitos beijos, motivo que em tal momento ia com o aperto do coração do rapaz.

ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. São Paulo: Ática, 1999, p. 119.


Com base no texto e na leitura integral do romance de Machado de Assis, Esaú e Jacó, publicado pela primeira vez em 1904, é correto afirmar que:
01) o romance de Machado de Assis está situado dentro da escola literária do Realismo brasileiro e possui como pano de fundo a transição do Império para a República, tendo referências explícitas ao contexto histórico da época em que os fatos são narrados.   
02) Esaú e Jacó vale-se de intertexto com a narrativa bíblica, seja em razão dos nomes dos protagonistas, Pedro e Paulo, assim nomeados em referência aos apóstolos homônimos, seja em virtude dos nomes dos personagens que dão título à obra.   
04) o romance de Machado de Assis ilustra um aspecto fundamental nas histórias literárias sobre irmãos gêmeos, narrativas nas quais cada gêmeo possui uma personalidade diferente, diametralmente oposta, sendo os irmãos frequentemente rivais na disputa por um objeto amoroso.   
08) em Esaú e Jacó, Machado de Assis pratica uma forma de intertexto ao resgatar personagens presentes em outros de seus consagrados romances, como é o caso de Dom Casmurro e os sujeitos ficcionais Bentinho e Capitu.   
16) Esaú e Jacó pode ser classificado como um romance histórico, muito embora o formato apresentado seja o de um diário irônico e sagaz de Conselheiro Aires sobre a implantação da República em território brasileiro, projeto considerado pelo narrador como algo impossível dado o passado colonial, retrógrado e agrário do país.   
32) no romance de Machado de Assis, a libertação dos escravos é um tema político sobre o qual os dois irmãos, Pedro e Paulo, expressam mesma postura ideológica, momento em que se dá uma trégua na rivalidade entre os dois.   
  
2. (Unicamp 2017)  O romance Memórias póstumas de Brás Cubas é considerado um divisor de águas tanto na obra de Machado de Assis quanto na literatura brasileira do século XIX. Indique a alternativa em que todas as características mencionadas podem ser adequadamente atribuídas ao romance em questão.
a) Rejeição dos valores românticos, narrativa linear e fluente de um defunto autor, visão pessimista em relação aos problemas sociais.   
b) Distanciamento do determinismo científico, cultivo do humor e digressões sobre banalidades, visão reformadora das mazelas sociais.   
c) Abandono das idealizações românticas, uso de técnicas pouco usuais de narrativa, sugestão implícita de contradições sociais.   
d) Crítica do realismo literário, narração iniciada com a morte do narrador-personagem, tematização de conflitos sociais.   
  
3. (Upe-ssa 2 2017)  Texto 1

Tinha dezessete anos; pungia-me um buçozinho que eu forcejava por trazer a bigode. Os olhos, vivos e resolutos, eram a minha feição verdadeiramente máscula. Como ostentasse certa arrogância, não se distinguia bem se era uma criança, com fumos de homem, se um homem com ares de menino. Ao cabo, era um lindo garção, lindo e audaz, que entrava na vida de botas e esporas, chicote na mão e sangue nas veias, cavalgando um corcel nervoso, rijo, veloz, como o corcel das antigas baladas, que o romantismo foi buscar ao castelo medieval, para dar com ele nas ruas do nosso século. O pior é que o estafaram a tal ponto, que foi preciso deitá-lo à margem, onde o realismo o veio achar, comido de lazeira e vermes, e, por compaixão, o transportou para os seus livros.
Sim, eu era esse garção bonito, airoso, abastado; e facilmente se imagina que mais de uma dama inclinou diante de mim a fronte pensativa, ou levantou para mim os olhos cobiçosos. De todas porém a que me cativou logo foi uma... uma... não sei se diga; este livro é casto, ao menos na intenção; na intenção é castíssimo. Mas vá lá; ou se há de dizer tudo ou nada. A que me cativou foi uma dama espanhola, Marcela, a “linda Marcela”, como lhe chamavam os rapazes do tempo. E tinham razão os rapazes. Era filha de um hortelão das Astúrias; disse-mo ela mesma, num dia de sinceridade, porque a opinião aceita é que nascera de um letrado de Madri, vítima da invasão francesa, ferido, encarcerado, espingardeado, quando ela tinha apenas doze anos.

Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis


Texto 2

Durante dois anos, o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta implacável que lhe crescia junto da casa, por debaixo das janelas, e cujas raízes, piores e mais grossas do que serpentes, minavam por toda a parte, ameaçando rebentar o chão em torno dela, rachando o solo e abalando tudo. Posto que lá na Rua do Hospício os seus negócios não corressem mal, custava-lhe a sofrer a escandalosa fortuna do vendeiro “aquele tipo! um miserável, um sujo, que não pusera nunca um paletó, e que vivia de cama e mesa com uma negra!”
À noite e aos domingos, ainda mais recrudescia o seu azedume, quando ele, recolhendo-se fatigado do serviço, deixava-se ficar estendido numa preguiçosa, junto à mesa da sala de jantar, e ouvia, a contragosto, o grosseiro rumor que vinha da estalagem numa exalação forte de animais cansados. Não podia chegar à janela sem receber no rosto aquele bafo, quente e sensual, que o embebedava com o seu fartum de bestas no coito.
E depois, fechado no quarto de dormir, indiferente e habituado às torpezas carnais da mulher, isento já dos primitivos sobressaltos que lhe faziam, a ele, ferver o sangue e perder a tramontana, era ainda a prosperidade do vizinho o que lhe obsedava o espírito, enegrecendo-lhe a alma com um feio ressentimento de despeito.
Tinha inveja do outro, daquele outro português que fizera fortuna, sem precisar roer nenhum chifre; daquele outro que, para ser mais rico três vezes do que ele, não teve de casar com a filha do patrão ou com a bastarda de algum fazendeiro freguês da casa!
Mas então, ele Miranda, que se supunha a última expressão da ladinagem e da esperteza; ele, que, logo depois do seu casamento, respondendo para Portugal a um ex-colega que o felicitava, dissera que o Brasil era uma cavalgadura carregada de dinheiro, cujas rédeas um homem fino empolgava facilmente; ele, que se tinha na conta de invencível matreiro, não passava afinal de um pedaço de asno comparado com o seu vizinho! Pensara fazer-se senhor do Brasil e fizera-se escravo de uma brasileira mal-educada e sem escrúpulos de virtude! Imaginara-se talhado para grandes conquistas, e não passava de uma vítima ridícula e sofredora!... Sim! no fim de contas qual fora a sua África?... Enriquecera um pouco, é verdade, mas como? a que preço? hipotecando-se a um diabo, que lhe trouxera oitenta contos de réis, mas incalculáveis milhões de desgostos e vergonhas! Arranjara a vida, sim, mas teve de aturar eternamente uma mulher que ele odiava! E do que afinal lhe aproveitar tudo isso? Qual era afinal a sua grande existência? Do inferno da casa para o purgatório do trabalho e vice-versa! Invejável sorte, não havia dúvida!

O Cortiço, de Aluízio de Azevedo


Considerando as características temáticas e estilísticas dos textos 1 e 2, analise as proposições a seguir.

I. O Texto 1 é um trecho de um importante romance de Machado de Assis, o qual destaca episódios da vida do próprio autor.
II. No Texto 1, é possível perceber costumes do cotidiano burguês numa cidade do século XIX, levando o leitor a constatar, pela postura individual do protagonista, um segmento social dosado de humor nas suas próprias experiências.
III. No Texto 2, é apresentado o comportamento decadente da sociedade burguesa da segunda metade do século XIX, em que prevalece o interesse individual.
IV. As personagens de Aluísio Azevedo, em O Cortiço, são alicerçadas nas ideias de Taine, presas ao ambiente e à hereditariedade, limitadas pelas questões sociais e pelo meio onde vivem suas experiências.

Estão CORRETAS:
a) I, II, III e IV.   
b) I, III e IV, apenas.   
c) II e III, apenas.   
d) II, III e IV, apenas.   
e) II e IV, apenas.   
  
4. (Acafe 2017)  “Diferentemente do Realismo e do Naturalismo, que se voltavam para o exame e para a crítica da realidade, o Parnasianismo representou na poesia um retorno ao clássico, com todos os seus ingredientes: o princípio do belo na arte, a busca do equilíbrio e da perfeição formal. Os parnasianos acreditavam que o sentido maior da arte reside nela mesma, em sua perfeição, e não na sua relação com o mundo exterior.”

CEREJA; MAGALHÃES, 1999, p. 334.


Sobre o Parnasianismo, assinale a alternativa correta.
a) Os maiores expoentes do Parnasianismo, na poesia e na prosa, ocuparam-se da literatura indianista, na qual exaltavam a dignidade do nativo e a beleza superior da paisagem tropical.   
b) Um exemplo de poesia parnasiana é a obra Suspiros poéticos e saudade, de Gonçalves de Magalhães, na qual o poeta anuncia a revolução literária, libertando-se dos modelos românticos, considerados ultrapassados.   
c) Os parnasianos consideravam que certos princípios românticos, como a simplicidade da linguagem, valorização da paisagem nacional, emprego de sintaxe e vocabulário mais brasileiros, sentimentalismo, tudo isso ocultava as verdadeiras qualidades da poesia.   
d) Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manoel da Costa exemplificam a tendência de uma poesia pura, indiferente às contingências históricas, com sátira à mestiçagem e elogio à nobreza local.    
  
5. (Fac. Pequeno Príncipe - Medici 2016)  A construção narrativa da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis, atesta
a) sua relação com o Realismo, considerando-se que o narrador-personagem, sem utilizar digressões e de forma objetiva, elabora seus argumentos, mas expressa seu arrependimento pela acusação feita.   
b) sua circunscrição em um discurso persuasivo, elaborado com objetividade, com evidências que comprovam o adultério cometido.   
c) a formulação de um enigma, apresentado pela voz do narrador-personagem, em uma narrativa permeada de ambiguidades.   
d) a credibilidade do narrador por sua isenção, imparcialidade e equilibrado distanciamento emocional dos acontecimentos narrados.   
e) a competência narrativa de Bentinho, advogado, que utiliza termos jurídicos para argumentar e  comprovar a traição de Capitu.   
  
6. (Usf 2016)  “Também conhecidos como escolas, correntes ou movimentos, os períodos literários correspondem a fases histórico-culturais em que determinados valores estéticos e ideológicos resultam na criação de obras mais ou menos próximas no estilo e na visão de mundo. Diferenciam-se do estilo de época por ter uma abrangência maior, englobando circunstâncias como as condições do meio, as influências filosóficas e políticas, etc.”

(Gonzaga, Sergius, Curso de literatura brasileira. 2.ª ed. – Porto Alegre: Leitura XXI, 2007. p.12)


A partir da segmentação da produção literária nacional, como descrita por Sergius Gonzaga no excerto acima, nos aspectos que se referem a contexto histórico, características, autores e obras, é correto afirmar que
a) o Barroco surge do conflito entre Teocentrismo e Antropocentrismo e tem como resultado uma poética dicotômica e instável emocionalmente. Já a prosa barroca, expressa nos sermões do Padre Vieira, não reflete esse conflito à medida que registra as relações homem/entorno seguindo a ótica analítico-racional que deriva do pensamento calcado na razão.   
b) o Arcadismo apresenta o primado do sentimento em detrimento da razão. Autores como Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga – este em especial na poesia lírica e épica – antecipam o sentimentalismo amoroso que encontrará seu ápice no Romantismo. A poesia dos autores citados vem impregnada, ainda, do forte senso de nação, de onde derivará a vertente nacionalista de nossa poesia do século XIX.   
c) o Romantismo brasileiro apresenta divisão temática tanto na prosa quanto na poesia. Nesta, a produção divide-se em três gerações: Indianista-Nacionalista; Ultrarromântica-Byroniana-Mal do século e Social-Hugoana-Condoreira. A prosa se organiza sob as temáticas indianista, histórica, regionalista e urbana, sendo que o autor que mais se destaca nesses segmentos é Joaquim Manuel de Macedo.   
d) o Realismo e o Naturalismo são contemporâneos. Embora derivados do mesmo contexto, algumas das obras sofreram as influências de correntes cientificistas – como Determinismo, Positivismo, Marxismo, a Psicanálise de Freud – e apresentam características muito particulares. No Realismo, há predomínio dos aspectos psicológicos sobre a ação, e o Naturalismo apresenta a animalização do homem. Destacam-se Dom Casmurro e O cortiço como grandes obras desses períodos.   
e) O Modernismo no Brasil, à maneira do Romantismo, é segmentado em três gerações, que se organizam cronologicamente, a partir de 1922, quando da Semana de Arte Moderna, até os dias de hoje, cuja produção retoma os princípios dos primeiros tempos modernistas. Destaca-se, na produção modernista, a obra de João Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Clarice Lispector, entre outros.   
  
7. (Upe-ssa 2 2016)  Machado de Assis e Aluísio Azevedo, no mesmo ano, 1881, deram início, respectivamente, ao Realismo e Naturalismo no Brasil. O primeiro, com Memórias Póstumas de Brás Cubas e o segundo, com O Mulato, embora o Cortiço é que tenha celebrizado o autor maranhense. Sobre esses movimentos literários, aos quais pertencem os textos, leia o que se segue:

Texto 1

Ao verme que primeiro roeu
as frias carnes do meu cadáver
dedico como saudosa lembrança
estas Memórias Póstumas

Texto 2

Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da última guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia.
Roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas. Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias; reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros abafados de crianças que ainda não andam. No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos saíam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia.
Daí a pouco, em volta das bicas, era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se.
As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário, metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.
O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. [...]

Analise as afirmativas a seguir:

I. O texto 1 é a dedicatória de Brás Cubas, que inicia suas memórias póstumas. Nessa obra, o autor textual e narrador ironicamente dedica suas memórias aos vermes. Trata-se de um aspecto inerente à estética romântica, uma vez que nela encontra-se subjacente a ideia de morte.
II. No texto 2, o narrador descreve o comportamento da coletividade que forma o Cortiço. Note-se que nele há o privilégio do coletivo sobre o individual, elemento peculiar ao Romantismo, o que não surpreende o leitor, dado que o autor abraçou tanto a estética romântica quanto a realista.
III. Os dois textos, embora escritos por autores diferentes, apresentam as mesmas tendências estéticas. Ambos são realistas e criticam o comportamento da burguesia que vivia na ociosidade explorando os menos favorecidos.
IV. O texto 1 tem por narrador a personagem principal que conta a sua própria história e o faz com a “tinta da galhofa e a pena da melancolia”, utilizando-se de um gracejo de tom cômico, próximo do humor negro de origem inglesa.
V. No texto 2, o relato é de um narrador observador que apresenta os acontecimentos de um ponto de vista neutro, porque não se envolve nem faz parte da história narrada. Seu discurso volta-se para a análise dos elementos deterministas e das patologias sociais, o que faz de O Cortiço um texto naturalista.

Está CORRETO apenas o que se afirma em
a) I e II.   
b) IV e V.   
c) I, II e III.   
d) II e III.   
e) I, II e IV.   
  
8. (Ufrgs 2015)  Assinale a alternativa correta sobre a obra de Machado de Assis.
a) O primeiro romance publicado por Machado de Assis foi Dom Casmurro (1899), totalmente integrado à estética romântica, ao pôr em evidência a história de amor entre Bentinho e Capitu.   
b) Brás Cubas, o protagonista do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, é um humanista oriundo da classe trabalhadora, defensor dos direitos dos escravos.   
c) Quincas Borba, único romance de Machado de Assis que apresenta narrador em primeira pessoa, é narrado pelo próprio Quincas.   
d) Várias histórias reúne alguns dos principais contos de Machado de Assis, entre eles A causa secreta, que narra o prazer mórbido que sente Fotunato ao presenciar o sofrimento alheio.   
e) Helena é um romance da última fase de Machado de Assis, já integrado ao realismo, na qual se destaca a ironia que consagrou o autor.   

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Texto para a(s) questão(ões) a seguir

                Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
                Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos.

Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.


9. (Fgvrj 2015)  Ao configurar as Memórias póstumas de Brás Cubas como narrativa em primeira pessoa, conforme se verifica no trecho, Machado de Assis
a) deu um passo decisivo em direção ao Realismo, adotando os procedimentos mais típicos dessa escola.   
b) visa a criticar o subjetivismo romântico e os excessos sentimentalistas em que este incorrera.   
c) deu a palavra ao proprietário escravista e rentista brasileiro do Oitocentos, para que ele próprio exibisse sua desfaçatez.   
d) parodia as Memórias de um sargento de milícias, retomando o registro narrativo que as caracterizava.   
e) confere confiabilidade aos juízos do narrador, uma vez que este conhece os acontecimentos de que participou.   
  
10. (Enem 2014)  Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a quem não souber que ele possuía um caráter ferozmente honrado. Eu mesmo fui injusto com ele durante os anos que se seguiram ao inventário de meu pai. Reconheço que era um modelo. Arguiam-no de avareza, e cuido que tinham razão; mas a avareza é apenas a exageração de uma virtude, e as virtudes devem ser como os orçamentos: melhor é o saldo que o déficit. Como era muito seco de maneiras, tinha inimigos que chegavam a acusá-lo de bárbaro. O único fato alegado neste particular era o de mandar com frequência escravos ao calabouço, donde eles desciam a escorrer sangue; mas, além de que ele só mandava os perversos e os fujões, ocorre que, tendo longamente contrabandeado em escravos, habituara-se de certo modo ao trato um pouco mais duro que esse gênero de negócio requeria, e não se pode honestamente atribuir à índole original de um homem o que é puro efeito de relações sociais. A prova de que o Cotrim tinha sentimentos pios encontrava-se no seu amor aos filhos, e na dor que padeceu quando morreu Sara, dali a alguns meses; prova irrefutável, acho eu, e não única. Era tesoureiro de uma confraria, e irmão de várias irmandades, e até irmão remido de uma destas, o que não se coaduna muito com a reputação da avareza; verdade é que o benefício não caíra no chão: a irmandade (de que ele fora juiz) mandara-lhe tirar o retrato a óleo.

ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.

Obra que inaugura o Realismo na literatura brasileira, Memórias póstumas de Brás Cubas condensa uma expressividade que caracterizaria o estilo machadiano: a ironia. Descrevendo a moral de seu cunhado, Cotrim, o narrador-personagem Brás Cubas refina a percepção irônica ao
a) acusar o cunhado de ser avarento para confessar-se injustiçado na divisão da herança paterna.   
b) atribuir a “efeito de relações sociais” a naturalidade, com que Cotrim prendia e torturava os escravos.   
c) considerar os “sentimentos pios” demonstrados pelo personagem quando da perda da filha Sara.   
d) menosprezar Cotrim por ser tesoureiro de uma confraria e membro remido de várias irmandades.   
e) insinuar que o cunhado era um homem vaidoso e egocêntrico, contemplado com um retrato a óleo.   
  
11. (Espcex (Aman) 2013)  Considerando a imagem da mulher nas diferentes manifestações literárias, pode-se afirmar que
a) nas cantigas de amor, originárias da Provença, o eu-lírico é feminino, mostrando o outro lado do relacionamento amoroso.   
b) no Arcadismo, a louvação da mulher é feita a partir da escolha de um aspecto físico em que sua beleza se iguale à perfeição da natureza.   
c) no Realismo, a mulher era idealizada como misteriosa, inatingível, superior, perfeita, como nas cantigas de amor.   
d) a mulher moderna é inferiorizada socialmente e utiliza a dissimulação e a sedução, muitas vezes desencadeando crises e problemas.   
e) a mulher barroca foi apresentada como arquétipo da beleza, evidenciando o poder por ela conquistado, enquanto os homens viviam uma paz espiritual.   
  
12. (Unb 2012)  O emplasto

Um dia de manhã, estando a passear na chácara, 3pendurou-se-me uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro.

Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais 1arrojadas cambalhotas. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, 4até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te.

Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade.

6Na petição de privilégio que então redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado, verdadeiramente cristão. Todavia, não neguei aos amigos as vantagens pecuniárias que deviam resultar da distribuição de um produto de tamanhos e tão profundos efeitos. Agora, porém, que estou cá do outro lado da vida, posso confessar 7tudo: o que me influiu principalmente foi o gosto de 9ver impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas e, enfim, nas caixinhas do remédio, 8estas três palavras: Emplasto Brás Cubas. Para que negá-lo? Eu tinha a paixão do arruído, do cartaz, do foguete de lágrimas. Talvez os 11modestos me arguam esse defeito; fio, porém, que esse talento me 10hão de reconhecer os 12hábeis. Assim, 5a minha ideia trazia duas faces, como as medalhas, uma virada para o público, outra para mim. De um lado, filantropia e lucro; de outro, 2sede de nomeada. Digamos: — amor da glória.

Um tio meu, cônego de prebenda inteira, costumava dizer que o amor da glória temporal era a perdição das almas, que só devem cobiçar a glória eterna. 13Ao que retorquia outro tio, oficial de um dos antigos terços de infantaria, que o amor da glória era a coisa mais verdadeiramente humana que há no homem e, consequentemente, a sua mais genuína feição.

Decida o leitor entre o militar e o cônego; eu volto ao emplasto.

Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. Obra completa, v. I. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992, p. 514-5 (com adaptações).

Com relação ao texto acima, à obra Memórias Póstumas de Brás Cubas e a aspectos por eles suscitados, julgue os itens subsequentes.

a) O compromisso do narrador com a verdade dos fatos, honestidade decorrente da vida além-túmulo, e o seu interesse pela ciência e pela filosofia aproximam a narrativa de Memórias Póstumas de Brás Cubas da forma de narrar do Naturalismo, ou seja, da descrição objetiva da realidade.
b) As “arrojadas cambalhotas” (ref. 1) da ideia inventiva de Brás Cubas relacionam-se à forma como Machado de Assis compôs esse romance, no qual o narrador intercala a narrativa de suas memórias com divagações acerca de temas diversos, o que produz constante vaivém na condução do enredo.
c) A narrativa das diferentes faces de uma mesma ideia expressa a singularidade do realismo machadiano, que ultrapassa as convenções realistas — focadas em desvelar as razões econômicas das causas humanitárias — e alcança dimensão mais profunda: a de desnudar o cinismo com que filantropia e lucro são reduzidos a caprichos do defunto autor em sua “sede de nomeada” (ref. 2).
d) A partir de Memórias Póstumas de Brás Cubas, o conjunto da obra machadiana divide-se em duas fases: a primeira é constituída por obras em que o foco narrativo é em terceira pessoa e o tema revela interesse pela sorte dos pobres, como em Helena, por exemplo; a segunda é formada de obras construídas a partir da perspectiva do narrador-personagem associado à classe dominante local, a exemplo de Dom Casmurro.
e) No trecho “pendurou-se-me uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro” (ref. 3), a combinação dos pronomes “se” e “me” exemplifica a variante padrão da língua portuguesa à época do texto. No que se refere ao português contemporâneo, uma estrutura equivalente que manteria a ênfase no sujeito da oração e a correção gramatical seria a seguinte: uma ideia pendurou-se no trapézio que eu tinha em meu cérebro.
f) Se considerada a noção de signo linguístico no trecho “até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te” (ref. 4), observa-se uma relação não arbitrária entre o significado de “X” e o seu significante, assim como acontece com o signo “ideia” no trecho “a minha ideia trazia duas faces, como as medalhas” (ref. 5).
g) No trecho “Na petição de privilégio que então redigi” (ref. 6), o pronome tem a função de complemento do verbo.
h) O termo “tudo” (ref. 7) especifica e resume as ideias evocadas na estrutura após o sinal de dois-pontos.
i) O termo “estas três palavras” (ref. 8) é complemento direto de “ver” (ref. 9) e sintetiza o termo coordenado que antecede essa expressão.
j) Em “hão de reconhecer” (ref. 10), o verbo auxiliar denota tempo futuro e de obrigatoriedade de ação, o que ratifica, no nível estrutural, a oposição postulada pelo autor entre “modestos” (ref. 11) e “hábeis” (ref. 12).
k) No texto, o vocábulo “sede” (ref. 2) significa ânsia, desejo e distingue-se de sede, local onde funciona a representação principal de firma ou empresa. No que se refere a esses dois vocábulos, o acento tônico é o recurso da língua com capacidade de discriminar os significados distintos.
l) No trecho “Ao que retorquia outro tio, oficial” (ref. 13), observa-se oração adjetiva como elemento modificador do aposto, que inicia o período.
  
13. (Espcex (Aman) 2011)  Quanto à Literatura Brasileira, assinale a alternativa correta.
a) Os escritores românticos, contrários aos árcades, buscavam uma forma mais objetiva de descrever a realidade, revelando os costumes, as relações sociais, a crise das instituições etc.   
b) O racionalismo é uma característica presente tanto no Arcadismo, quanto no Realismo, em contraposição ao Barroco e ao Romantismo, respectivamente.   
c) A publicação de “O Cortiço”, de Aluísio Azevedo, em 1881, marca oficialmente o início do Realismo no Brasil.   
d) A linguagem objetiva, a perfeição formal e o universalismo são características presentes na poesia barroca.   
e) Amor, solidão, pátria, índio, medievalismo são temas igualmente presentes na poesia épica de Gonçalves Dias e Castro Alves.   
  
14. (Cesgranrio 2011)  Dentre as correlações a seguir, aquela que associa corretamente o movimento literário à sua característica é
a) Concretismo – valorização do espaço gráfico como elemento estruturador do poema conjugada à sintaxe tradicional para enfatizar o lirismo do poeta.   
b) Realismo – retratação da realidade contemporânea, apresentando tipos concretos, vivos, não idealizados, na ânsia de apresentar uma visão patológica do homem, reduzindo-o a simples animal.   
c) Parnasianismo – movimento eminentemente poético em que se observam o alheamento a problemas sociais, o culto da forma e poesias excessivamente descritivas, num enfoque objetivo e impessoal.   
d) Simbolismo – expressão direta e precisa de ideias e emoções na retratação da realidade, além da obsessão pela musicalidade e pela busca da essência do ser humano: a alma.   
e) Romantismo – movimento literário que, em sua concepção primeira de traduzir a arte pela arte, evade-se na aspiração por outro mundo, o mundo idealizado, o que se configura numa estrutura formal rígida.   
  
15. (Ifsp 2011)  Considere os textos.

                Tinham uma perspectiva biológica do mundo reduzindo, muitas vezes, o homem à condição animal, colocando o instinto sobre a razão. Os aspectos desagradáveis e repulsivos da condição humana são valorizados, como uma forma de reação ao idealismo romântico.

(OLIVEIRA, Clenir Bellezi de. Arte literária: Portugal / Brasil. São Paulo: Moderna, 1999.)

                A sociedade é um grande laboratório onde o ser humano é observado agindo por instinto e, portanto desprovido de livre-arbítrio.

Assinale a alternativa que informa o período literário a que o texto se refere, um autor do mesmo período e sua respectiva obra.
a) Realismo, Machado de Assis, Dom Casmurro.   
b) Naturalismo, Aluísio Azevedo, O Cortiço.   
c) Simbolismo, Cruz e Souza, Missal e Broquéis.   
d) Modernismo, Jorge Amado, Capitães da Areia.   
e) Pós-modernismo, Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas.   
  
16. (Pucpr 2009)  Sobre "Dom Casmurro", de Machado de Assis, leia as afirmações a seguir e depois assinale a alternativa CORRETA:

I. A obra mais conhecida de Machado de Assis tem como temática o adultério feminino, a exemplo de outras narrativas suas contemporâneas.
II. O ciúme foi a causa da separação de Bentinho e Capitu, pois o fato de que Ezequiel é filho de Bentinho fica comprovado na narrativa.
III. Ao criticar a sociedade de seu tempo, Machado de Assis desnuda as relações interpessoais, sempre egoístas, como acontece com Bentinho e Capitu.
IV. Capitu, a mulher dissimulada, de olhos de cigana oblíqua, não consegue dissimular sua dor, por ocasião da morte de Escobar.
V. Dom Casmurro é o marco inicial do Realismo brasileiro, de que Machado de Assis é o maior representante.

a) As afirmações I, III e IV estão corretas.   
b) As afirmações II, III e V estão corretas.   
c) Somente a afirmação I está correta.   
d) Somente a afirmação V está errada.   
e) Nenhuma das afirmações acima está errada.   

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
TEXTO

                Assim se explicam a minha estada debaixo da janela de Capitu e a passagem de um cavaleiro, um dandy, 3como então dizíamos. Montava um belo cavalo alazão, firme na sela, rédea na mão esquerda, a direita à cinta, botas de verniz, figura e postura esbeltas: a cara não me era desconhecida. 1Tinham passado outros, e ainda outros 2viriam atrás; todos iam às suas namoradas. Era uso do tempo namorar a cavalo. Relê Alencar: "Porque um estudante (dizia um dos seus personagens de teatro de 1858) não pode estar sem estas duas coisas, um cavalo e uma namorada". Relê Álvares de Azevedo. Uma das suas poesias é destinada a contar (1851) que residia em Catumbi, e, para ver a namorada no Catete, alugara um cavalo por três mil-réis...
Machado de Assis. Dom Casmurro.



17. (Fuvest 2009)  Considerando-se o excerto no contexto da obra a que pertence, pode-se afirmar corretamente que as referências a Alencar e a Álvares de Azevedo revelam que, em "Dom Casmurro", Machado de Assis:

a) expôs, embora tardiamente, o seu nacionalismo literário e sua consequente recusa de leituras estrangeiras.   
b) negou ao Romantismo a capacidade de referir-se à realidade, tendo em vista o hábito romântico de tudo idealizar e exagerar.   
c) recusou, finalmente, o Realismo, para começar o retorno às tradições românticas que irá caracterizar seus últimos romances.   
d) declarou que o passado não tem relação com o presente e que, portanto, os escritores de outras épocas não mais merecem ser lidos.   
e) utilizou, como em outras obras suas, elementos do legado de seus predecessores locais, alterando-lhes, entretanto, contexto e significado.   
  
18. (Uece 2008)  Sobre o Realismo, assinale o INCORRETO.
a) O Realismo na Literatura manifesta-se na prosa. A poesia da época vive o Simbolismo.   
b) O romance - social, psicológico e de tese - é a principal forma de expressão do Realismo.   
c) O romance realista deixa de ser apenas distração e torna-se veículo de crítica a instituições, como a Igreja Católica, e à hipocrisia burguesa.   
d) A escravidão, os preconceitos raciais e a sexualidade são os principais temas, tratados com linguagem clara e direta.   

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
NOTÍCIA DA ATUAL LITERATURA BRASILEIRA - INSTINTO DE NACIONALIDADE

                Quem examina a atual literatura brasileira reconhece-lhe logo, como primeiro traço, certo instinto de nacionalidade. Poesia, romance, todas as formas literárias do pensamento buscam vestir-se com as cores do país, e não há negar que semelhante preocupação é sintoma de vitalidade e abono de futuro.
                As tradições de Gonçalves Dias, Porto Alegre e Magalhães são assim continuadas pela geração já feita e pela que ainda agora madruga, como aqueles continuaram as de José Basílio da Gama e Santa Rita Durão. Escusado é dizer a vantagem deste universal acordo. Interrogando a vida brasileira e a natureza americana, prosadores e poetas acharão ali farto manancial de inspiração e irão dando fisionomia própria ao pensamento nacional.
                Esta outra independência não tem Sete de Setembro nem campo de Ipiranga; não se fará num dia, mas pausadamente, para sair mais duradoura; não será obra de uma geração nem duas; muitos trabalharão para ela até perfazê-la de todo.
(Machado de Assis, Crítica. Texto adaptado.)


19. (Fatec 2008)  Assinale a alternativa que interpreta corretamente o texto.
a) O texto afirma uma literatura nacionalista que tem suas raízes na Proclamação da Independência, episódio inspirador de obras de muitas gerações.   
b) Com a metáfora presente em - "As tradições [...] são assim continuadas pela geração já feita e pela que ainda agora madruga" - Machado critica a tradição de valorizar o passado, presente em escritores brasileiros.   
c) Há, no texto, uma concepção de literatura que privilegia a escolha de temas da História pátria, como é o caso de obras que exaltam o Sete de Setembro.   
d) Para o autor, as raízes do Realismo remontam às obras dos autores que ele menciona e cujos textos trazem as teses realistas mais importantes.   
e) Machado de Assis entende o instinto de nacionalidade na literatura brasileira como autonomia de ideias em relação a temas importados, a qual se constrói paulatinamente.   
  
20. (Pucpr 2007)  Sobre o Realismo, assinale a alternativa INCORRETA.
a) O Realismo e o Naturalismo têm as mesmas bases, embora sejam movimentos diferentes.   
b) O Realismo surgiu como consequência do cientificismo do século XIX.   
c) O Realismo surgiu na Europa, como reação ao Naturalismo.   
d) Gustave Flaubert foi um dos precursores do Realismo. Escreveu "Madame Bovary".   
e) Emile Zola escreveu romances de tese e influenciou escritores brasileiros.   
 
Gabarito:  

Resposta da questão 1:
 01 + 02 + 04 = 07.

Estão incorretas as afirmativas:

[08] A intertextualidade em Esaú e Jacó (1904) se dá em relação aos personagens bíblicos e também pelo personagem Conselheiro Aires, que será protagonista de uma obra publicada posteriormente por Machado de Assis, em 1908: Memorial de Aires.
[16] Esaú e Jacó narra a história de dois irmãos que rivalizam e defendem posições políticas divergentes, um é monarquista, o outro republicano. Por meio dessa obra, Machado de Assis retrata o período equivalente às vésperas da Proclamação da República no Brasil.
[32] No capítulo XXXVII, “Desacordo no acordo”, Pedro e Paulo mostram-se favoráveis à abolição dos escravos, mas por razões diferentes: “para Pedro era um ato de justiça, e para Paulo era o início da revolução”.  

Resposta da questão 2:
 [C]

A alternativa [C] é a única que possui todos os elementos corretos sobre o romance. Memórias póstumas de Brás Cubas de fato rompe com a tradição romântica. É considerado um marco do Realismo no Brasil por, entre outras coisas, narrar o romance entre Brás Cubas e Marcela de maneira cínica, já que o dinheiro desempenha um importante papel na conquista. Ao adotar como narrador um defunto autor – Brás Cubas –, o autor muitas vezes produz interferências na linearidade narrativa, sobretudo por meio de digressões. As contradições sociais são sugeridas, por exemplo, pelo casamento de aparências mantido por Virgília com Lobo Neves e pelas relações que o protagonista – membro da classe alta – mantém com outros personagens menos privilegiados social e economicamente.  

Resposta da questão 3:
 [D]

[I] Falsa. O narrador de Memórias Póstumas de Brás Cubas é o defunto-autor, Brás Cubas, e não o autor, Machado de Assis.
[II] Verdadeira. Brás Cubas representa a ociosidade da elite brasileira do século XIX. Ironicamente, mostra-se como um charmoso moço, porém seduzido pela “bela Marcela”, uma prostituta.
[III] Verdadeira. Miranda representa a elite brasileira, o português que veio ao Brasil para enriquecer; no entanto, assume invejar seu vizinho, outro português, que enriqueceu sem precisar se casar com uma mulher adúltera para alcançar seus objetivos.
[IV] Verdadeira. O Cortiço é um romance de tese apoiado no Determinismo: os indivíduos têm seu comportamento pré-determinado por elementos mesológicos (é o caso de Jerônimo, que se abrasileira ao conviver no cortiço com os brasileiros), genéticos (é o caso da sedutora Rita Baiana, brasileira) e sociais (a necessidade de enriquecer para atender a padrões impostos pela sociedade, como ocorre com Miranda e João Romão).  

Resposta da questão 4:
 [C]

É correta a opção [C], pois o Parnasianismo surgido no Brasil na década de 80 do século XIX, impôs novos parâmetros e valores artísticos, propondo a restauração da poesia clássica, desprezada pelos românticos.  

Resposta da questão 5:
 [C]

[A] Incorreta. Um dos principais pontos da narrativa machadiana em sua fase adulta é a digressão.
[B] Incorreta. Apesar de considerado introdutor do Realismo no Brasil com Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Machado de Assis faz uso da subjetividade por intermédio de um narrador em 1ª pessoa, memorialista, para tentar convencer o leitor a respeito do adultério de Capitu.
[C] Correta. Ao considerar a subjetividade, o discurso e o comportamento do narrador, percebe-se que Dom Casmurro é um grande enigma da Literatura Brasileira a respeito do adultério de Capitu.
[D] Incorreta. Por ser narrado em 1ª pessoa, não há possibilidade de isenção, imparcialidade ou distanciamento em relação aos acontecimentos narrados.
[E] Incorreta. Bentinho não narra Dom Casmurro: esse é o nome adotado por Bento Santiago durante sua infância e adolescência. O narrador, já idoso, apresenta seu ponto de vista de modo memorialista.  

Resposta da questão 6:
 [D]

A alternativa correta é a [D], pois tanto o Realismo quanto o Naturalismo se desenvolveram a partir da segunda metade do século XIX e foram influenciados sobremaneira pela profusão de teorias científicas da época.  

Resposta da questão 7:
 [B]

I. Incorreto. Memórias Póstumas de Brás Cubas contraria a estética romântica; no trecho em questão, a imagem dos vermes causam repulsa e este é um dos aspectos adotados por obras realistas e naturalistas – ainda que a narrativa não seja propriamente realista ou naturalista.
II. Incorreto. O Realismo, como reação ao Romantismo, privilegia o coletivo em detrimento ao individual.
III. Incorreto. Memórias Póstumas de Brás Cubas é uma obra de difícil classificação, apesar de conter aspectos realistas e naturalistas. Já O Cortiço é uma obra naturalista; seguindo tal estética, seu foco principal não é criticar a exploração dos menos favorecidos pela elite, e sim defender a influência que o meio exerce nos indivíduos que nele estão inseridos.
IV. Correto. O próprio Brás Cubas faz referência, no enredo, ao escritor inglês Sterne: assume adotar o estilo livre do autor, caracterizado pelo humor negro.
V. Correto. Assim como preza um romance de tese, Aluísio Azevedo optou por um narrador em 3ª pessoa, isento, portanto, do filtro da subjetividade. Desse modo, demonstra capacidade analítica, recorrendo ao Determinismo para explicar o modo de vida dos personagens.  

Resposta da questão 8:
 [D]

[A] Incorreta. O primeiro romance escrito por Machado de Assis foi Ressurreição, em 1872.
[B] Incorreta. O protagonista de Memórias Póstumas de Brás Cubas é o próprio narrador, um defunto-autor. Em vida, Brás não exerceu qualquer atividade remunerada, vivendo da herança deixada por seus pais. Aliás, no último capítulo, “Das Negativas”, Brás orgulha-se: “coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto”.
[C] Incorreta. Quincas Borba é narrado em 3ª pessoa.
[D] Correta. Várias histórias data de 1896, formado por 16 contos publicados anteriormente no jornal Gazeta de Notícias. Dentre eles, está “A causa secreta”, cujo enredo confere com o enunciado.
[E] Incorreta. Helena é o terceiro romance de Machado, publicado em 1876, portanto ainda na primeira fase da carreira do autor.  

Resposta da questão 9:
 [C]

Brás Cubas, protagonista e narrador da obra, pertencia à elite carioca do século XIX. Nunca trabalhou (era rentista, ou seja, vivia de renda) e possuía escravos. Durante a leitura, não é difícil para o leitor perceber a falta de caráter e as incoerências de discurso do personagem: por exemplo, ao encontrar um amigo de infância, Quincas Borba, na mendicância, Brás Cubas faz apologia ao trabalho, de maneira moralista. Tal atitude é extremamente cínica, uma vez que ele, como afirma no último capítulo da obra, teve a “boa fortuna de não comprar o pão com o suor do seu rosto”.   

Resposta da questão 10:
 [B]

Das mais nobres e raras marcas da linguagem machadiana é a sutileza, a ironia descrita por sugestões, em geral, atitudes condenáveis moralmente, mas descritas com polidez, ainda que sórdidas, como a de torturar escravos, martirizá-los enquanto os contrabandeava em navios, àquela época, prática já proibida.  

Resposta da questão 11:
 [B]

As opções [A], [C], [D] e [E] são incorretas, pois

[A] nas cantigas de amor, o eu lírico é masculino;
[C] a idealização é típica do Romantismo;
[D] o amor, o casamento, a relação homem e mulher são questões abordadas no Modernismo, questionamentos que provocam reconhecimento e valorização da mulher no espaço social da época;
[E] a estética barroca nega a concepção da figura do ser perfeito típico do Classicismo e apresenta a mulher como alguém dual, merecedora de elogios e também de críticas.

Assim, é correta apenas [B].  

Resposta da questão 12:
 a) Incorreto.
b) Correto.
c) Correto.
d) Correto.
e) Correto.
f) Incorreto.
g) Correto.
h) Incorreto.
i) Incorreto.
j) Incorreto.
k) Incorreto.
l) Correto.

Não são verdadeiras as avaliações respeitantes aos itens [A], [F], [H], [I], [J] e [K], pois:
 
Em [A], a narrativa de Memórias Póstumas de Brás Cubas representa a vertente realista de cunho psicológico, a qual, ao invés de descrever a sociedade objetiva e detalhadamente, se concentra na visão de mundo de seus personagens, expondo suas contradições. Assim, não se preocupa com a veracidade dos fatos, uma vez que pretende apenas gerar reflexões sobre o conflito da essência do ser humano frente às circunstâncias do mundo que o cerca.
Em [F], chama-se de “arbitrário” o sinal linguístico que nada contém em si mesmo da ideia que representa, estando o seu significado determinado pela relação que mantém com outros sinais. Ora os trechos citados constituem uma alegoria que explica a decisão de Brás Cubas em inventar o emplastro: a ideia transforma-se em figura humana e esta, na letra enigmática de um X, estabelecendo a incógnita cuja decifração depende exclusivamente do narrador. Assim, o sinal linguístico X não pode ser considerado “não arbitrário”.
Em [H], as funções especificativas ou resumitivas são determinadas pelo aposto, sempre relacionado com termos anteriores. Assim, a estrutura enunciada depois dos dois pontos é que especifica o termo “tudo” e não o contrário;
Em [I], o termo “estas três palavras” constitui um objeto direto com um único núcleo, portanto, não coordenado. As três palavras referidas serão mencionadas a seguir no aposto enumerativo “Emplasto Brás Cubas”.
Em [J], o verbo auxiliar denota tempo futuro e de obrigatoriedade, mas não está relacionado estruturalmente à oposição “modestos e “hábeis”. O narrador atribui a capacidade de percepção do seu talento apenas aos “hábeis”, inteligentes e astutos.
Em [K], ambas as palavras são paroxítonas, portanto, não é o acento tônico que as diferencia, mas sim o timbre da vogal tônica “e” que é fechado em sede quando significa ânsia, desejo e aberto em sede, local onde funciona a representação principal de firma ou empresa.  

Resposta da questão 13:
 [B]

As características enunciadas em a) são típicas do Realismo e não do Romantismo, e as apresentadas em d), do Classicismo e não do Barroco. São incorretas as afirmações em c) e e), pois Aluísio Azevedo inicia o Naturalismo no Brasil em 1881 com a obra “O Mulato” e os temas apresentados em e) dizem respeito a dois momentos do Romantismo brasileiro: 1ª Geração- pátria, índio, medievalismo- Gonçalves Dias e 2ª Geração- amor-solidão- Álvares de Azevedo. Embora o tema amor e a solidão estejam também presentes na obra de Gonçalves Dias e Castro Alves, não podem ser incluídas no gênero épico da poesia.  

Resposta da questão 14:
 [C]

A única opção correta é c) que apresenta características do Parnasianismo. O Concretismo valoriza o espaço gráfico, mas transgride a sintaxe tradicional ao decretar o fim do verso e sua substituição por um signo verbivocovisual. Realismo é um termo genérico de um movimento artístico que retrata a realidade, mas nem sempre com intenção de apresentar a visão patológica do homem, como acontece na vertente Naturalista. O Simbolismo tem como característica principal a sugestão das ideias e das emoções, através de uma linguagem hermética, uso de sinestesias e vocabulário erudito. O Romantismo tem como característica a valorização do eu, das emoções, o uso da imaginação e a liberdade formal.   

Resposta da questão 15:
 [B]

O escritor que melhor representa a corrente literária do naturalismo brasileiro é Aluísio Azevedo. Os naturalistas acreditavam que o indivíduo é mero produto da hereditariedade e seu comportamento é fruto do meio em que vive e sobre o qual age. A perspectiva evolucionista de Charles Darwin inspirava os naturalistas, que acreditavam ser a seleção natural impulsionadora da transformação das espécies. Assim, predomina nesse tipo de romance o instinto, o fisiológico e o natural, retratando a agressividade, a violência, o erotismo como elementos que compõem a personalidade humana.  

Resposta da questão 16:
 [A]  

Resposta da questão 17:
 [E]  

Resposta da questão 18:
 [A]  

Resposta da questão 19:
 [E]  


Resposta da questão 20:
 [C]  

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