1. (Uerj 2016) Sobretudo compreendam os
críticos a missão dos poetas, escritores e artistas, neste período especial e
ambíguo da formação de uma nacionalidade. São estes os operários incumbidos de
polir o talhe e as feições da individualidade que se vai esboçando no viver do
povo.
O povo que chupa o caju, a
manga, o cambucá e a jabuticaba pode falar com igual pronúncia e o mesmo
espírito do povo que sorve o figo, a pera, o damasco e a nêspera?
José de Alencar, prefácio a Sonhos d’ouro, 1872.
Adaptado de ebooksbrasil.org.
De acordo com José de
Alencar, a caracterização da identidade nacional brasileira, no século XIX, estava
vinculada ao processo de:
a) promoção da cultura letrada
b) integração do mundo
lusófono
c) valorização da miscigenação
étnica
d) particularização da língua
portuguesa
TEXTO PARA AS
PRÓXIMAS 4 QUESTÕES:
Pietro
Brun, meu tetravô paterno, embarcou em um navio no final do século 19, como
tantos italianos pobres, em busca de uma utopia que atendia pelo nome de
América. Pietro queria terra, sim. Mas o que o movia era um território de outra
ordem. Ele queria salvar seu nome, encarnado na figura de meu bisavô, Antônio.
Pietro fora obrigado a servir o exército como soldado por anos demais (...). 1Havia
chegado a hora de Antônio se alistar, e o pai decidiu que não perderia seu
filho. Fugiu com ele e com a filha Luigia para o sul do Brasil. 2Como
desertava, meu bisavô Antônio foi levado em um bote até o navio que já se
afastava do porto de Gênova. Embarcou como clandestino.
Ao
desembarcar no Brasil, em 10 de fevereiro de 1883, Pietro declarou o nome
completo. O funcionário do Império, como aconteceu tantas e tantas vezes,
registrou-o conforme ouviu. Tornando-o, no mundo novo, Brum – com “m”. Meu pai,
Argemiro, filho de José, neto de Antônio e bisneto de Pietro, tomou para si a
missão de resgatar essa história e documentá-la.
3No
início dos anos 1990 cogitamos reivindicar a cidadania italiana. Possuímos
todos os documentos, organizados numa pasta. 4Mas entre nós existe
essa diferença na letra. 5Antes de ingressar com a documentação,
seria preciso corrigir o erro do burocrata do governo imperial que substituiu
um “n” por um “m”. 6Um segundo ele deve ter demorado para nos
transformar, e com certeza morreu sem saber. E, se soubesse, não teria se
importado, porque era apenas o nome de mais um imigrante a bater nas costas do
Brasil despertencido de tudo.
Cabia
a mim levar essa empreitada adiante.
Há
uma autonomia na forma como damos carne ao nosso nome com a vida que
construímos – e não com a que herdamos. (...) Eu escolho a memória. A desmemória
assombra porque não a nomeamos, respira em nossos porões como monstros sem
palavras. A memória, não. É uma escolha do que esquecer e do que lembrar – e
uma oportunidade de ressignificar o passado para ganhar um futuro. 7Pela
memória nos colocamos não só em movimento, mas nos tornamos o próprio
movimento. Gesto humano, para sempre incompleto.
8Ao
fugir para o Brasil, metade dos Brun ganhou uma perna a mais. O “n” virou “m”.
Mas essa perna a mais era um membro fantasma, um ganho que revelava uma perda.
(...)
9Quando
Pietro Brun atravessou o mar deixando mortos e vivos na margem que se
distanciou, ele não poderia ser o mesmo ao alcançar o outro lado. 10Ele
tinha de ser outro, assim como nós, que resultamos dessa aventura desesperada.
Era imperativo que ele fosse Pietro Brum – e depois até Pedro Brum.
ELIANE BRUM
Meus desacontecimentos: a história da minha vida com as palavras. São
Paulo: LeYa, 2014.
2. (Uerj 2017) Releia o trecho abaixo para
responder à questão.
Ao fugir para o Brasil,
metade dos Brun ganhou uma perna a mais. O “n” virou “m”. Mas essa perna a mais
era um membro fantasma, um ganho que revelava uma perda. (ref. 8)
Diante
da conduta do funcionário do governo brasileiro, é possível inferir a seguinte
reação por parte de Pietro Brun:
a) apreço
pela nova pátria
b) respeito
à memória familiar
c) submissão
às práticas oficiais
d) desprezo
pelas regras migratórias
3. (Uerj 2017) No texto, a autora narra
fatos e expõe suas opiniões relacionados à vinda de sua família para o Brasil.
Uma dessas opiniões está
explicitada em:
a) Havia chegado a hora de
Antônio se alistar, e o pai decidiu que não perderia seu filho. (ref. 1)
b) No início dos anos 1990
cogitamos reivindicar a cidadania italiana. (ref. 3)
c) Antes de ingressar com a
documentação, seria preciso corrigir o erro do burocrata do governo imperial
que substituiu um “n” por um “m”. (ref. 5)
d) Quando Pietro Brun
atravessou o mar deixando mortos e vivos na margem que se distanciou, ele não
poderia ser o mesmo ao alcançar o outro lado. (ref. 9)
4. (Uerj 2017) A partir da narrativa de um
episódio familiar, a autora elabora reflexões que vão além desse contexto
pessoal, generalizando-o.
Essa generalização pode ser
observada no emprego da primeira pessoa do plural no seguinte trecho:
a) Mas entre nós existe essa
diferença na letra. (ref. 4)
b) Um segundo ele deve ter
demorado para nos transformar, (ref. 6)
c) Pela memória nos colocamos
não só em movimento, (ref. 7)
d) Ele tinha de ser outro,
assim como nós, (ref. 10)
5. (Uerj 2017) Releia o trecho abaixo para
responder à questão.
Ao fugir para o Brasil,
metade dos Brun ganhou uma perna a mais. O “n” virou “m”. Mas essa perna a mais
era um membro fantasma, um ganho que revelava uma perda. (ref. 8)
A autora associa a troca de
letras no registro do sobrenome de seu tetravô à expressão um membro
fantasma.
Essa associação constrói um
exemplo da figura de linguagem denominada:
a) antítese
b) metáfora
c) hipérbole
d) eufemismo
TEXTO PARA AS
PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
O passado anda atrás de nós
como os detetives os
cobradores os ladrões
o futuro anda na frente
como as crianças os guias
de montanha
os maratonistas melhores
do que nós
salvo engano o futuro não
se imprime
como o passado nas pedras
nos móveis no rosto
das pessoas que conhecemos
o passado ao contrário dos
gatos
não se limpa a si mesmo
aos cães domesticados se
ensina
a andar sempre atrás do
dono
mas os cães o passado só
aparentemente nos pertencem
pense em como do lodo
primeiro surgiu esta poltrona este livro
este besouro este vulcão
este despenhadeiro
à frente de nós à frente
deles
corre o cão
ANA MARTINS MARQUES
O livro das semelhanças. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
6. (Uerj 2017) No poema, há marcas de
linguagem que remetem tanto à poeta quanto a seus leitores. Uma dessas marcas,
referindo-se unicamente ao leitor, está presente no seguinte verso:
a) como o passado nas pedras
nos móveis no rosto (v. 8)
b) das pessoas que conhecemos
(v. 9)
c) pense em como do lodo
primeiro surgiu esta poltrona este livro (v. 15)
d) à frente de nós à frente
deles (v. 17)
7. (Uerj 2017) aos cães domesticados se
ensina
a andar sempre atrás do
dono
mas os cães o passado só
aparentemente nos pertencem (v. 12-14)
Nesses versos, sugere-se
uma ideia a respeito da relação entre cães e seres humanos.
Essa ideia, no verso
destacado, recebe da poeta a seguinte avaliação:
a) adesão
b) negação
c) proibição
d) permissão
TEXTO PARA AS
PRÓXIMAS 3 QUESTÕES:
TERRORISMO LÓGICO
O TERRORISMO É DUPLAMENTE OBSCURANTISTA:
PRIMEIRO NO ATENTADO, DEPOIS NAS REAÇÕES QUE DESENCADEIA.
Said
e Chérif Kouachi eram descendentes de imigrantes. Said e Chérif Kouachi são
suspeitos do ataque ao jornal Charlie Hebdo, na França. Se não houvesse
imigrantes na França, não teria havido ataque ao Charlie Hebdo.
Said
e Chérif Kouachi, suspeitos do ataque ao jornal Charlie Hebdo, eram
filhos de argelinos. Zinedine Zidane é filho de argelinos. Zinedine Zidane é
terrorista.
Zinedine
Zidane é filho de argelinos. Said e Chérif Kouachi, suspeitos do ataque ao
jornal Charlie Hebdo, eram filhos de argelinos. Said e Chérif Kouachi
sabiam jogar futebol. Muçulmanos são uma minoria na França. Membros de uma
minoria são suspeitos do ataque terrorista. Olha aí no que dá defender
minoria...
A
esquerda francesa defende minorias. Membros de uma minoria são suspeitos pelo
ataque terrorista. A esquerda francesa é culpada pelo ataque terrorista.
A
extrema direita francesa demoniza os imigrantes. O ataque terrorista fortalece
a extrema direita francesa. A extrema direita francesa está por trás do ataque
terrorista.
Marine
Le Pen é a líder da extrema direita francesa. “Le Pen” é “O Caneta”, se tomarmos
o artigo em francês e o substantivo em inglês. Eis aí uma demonstração de apoio
da extrema direita francesa à liberdade de expressão – e aos erros de
concordância nominal.
Numa
democracia, é desejável que as pessoas sejam livres para se expressar. Algumas
dessas expressões podem ofender indivíduos ou grupos. Numa democracia, é
desejável que indivíduos ou grupos sejam ofendidos.
Os
terroristas que atacaram o jornal Charlie Hebdo usavam gorros pretos.
“Black blocs” usam gorros pretos. “Black blocs” são terroristas.
1Todo
abacate é verde. O Incrível Hulk é verde. O Incrível Hulk é um abacate.
Antonio Prata
Adaptado de Folha de São Paulo, 11/01/2015.
8. (Uerj 2016) Considere
o último parágrafo do texto.
Todo abacate é verde. O
Incrível Hulk é verde. O Incrível Hulk é um abacate. (ref. 1)
Todo argumento pode se tornar um sofisma: um
raciocínio errado ou inadequado que nos leva a conclusões falsas ou
improcedentes. O último parágrafo do texto é um exemplo de sofisma, considerando
que, da constatação de que todo abacate é verde, não se pode deduzir que só os
abacates têm cor verde.
Esse é o tipo de sofisma que adota o
seguinte procedimento:
a) enumeração incorreta
b) generalização indevida
c) representação imprecisa
d) exemplificação
inconsistente
9.
(Uerj 2016) O terrorismo é duplamente
obscurantista: primeiro no atentado, depois nas reações que desencadeia.
O subtítulo do texto sugere uma explicação
para o título.
Essa explicação é melhor compreendida pela
associação entre:
a) tiros e opiniões
b) armas e negociações
c) convicções e mentiras
d) crenças e esclarecimentos
10. (Uerj 2016) Considere
o último parágrafo do texto.
Todo abacate é verde. O
Incrível Hulk é verde. O Incrível Hulk é um abacate. (ref. 1)
Este parágrafo indica como o leitor deve ler
todos os anteriores.
Segundo essa indicação, os argumentos
apresentados pelo cronista devem ser compreendidos como:
a) críticas irônicas
b) exercícios formais
c) raciocínios aceitáveis
d) recriações linguísticas
TEXTO PARA AS
PRÓXIMAS 4 QUESTÕES:
A EDUCAÇÃO PELA SEDA
Vestidos muito justos são
vulgares. Revelar formas é vulgar. Toda revelação é de uma vulgaridade abominável.
Os conceitos a vestiram
como uma segunda pele, e pode-se adivinhar a norma que lhe rege a vida ao
primeiro olhar.
Rosa Amanda Strausz
Mínimo múltiplo comum: contos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990.
11. (Uerj 2016) A narrativa condensada do
texto sugere uma crítica relacionada à educação, tema anunciado no título.
Essa crítica dirige-se
principalmente à seguinte característica geral da vida social:
a) problemas frequentes
vividos na infância
b) julgamentos superficiais
produzidos por preconceitos
c) dificuldades previsíveis
criadas pelas individualidades
d) desigualdades acentuadas
encontradas na juventude
12. (Uerj 2016) Os conceitos a vestiram como uma segunda
pele,
O vocábulo a
é comumente utilizado para substituir termos já enunciados. No texto,
entretanto, ele tem um uso incomum, já que permite subentender um termo não
enunciado.
Esse uso indica um recurso
assim denominado:
a) elipse
b) catáfora
c) designação
d) modalização
13. (Uerj 2016) O conto contrasta dois
tipos de texto em sua estrutura.
Enquanto o segundo
parágrafo se configura como narrativo, o primeiro parágrafo se aproxima da
seguinte tipologia:
a) injuntivo
b) descritivo
c) dramático
d) argumentativo
14. (Uerj 2016) pode-se adivinhar a norma que lhe rege a vida
ao primeiro olhar.
A expressão destacada
reforça o sentido geral do texto, porque remete a uma ação baseada no seguinte
aspecto:
a) vulgaridade
b) exterioridade
c) regularidade
d) ingenuidade
TEXTO PARA AS
PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
CANÇÃO DO VER
Fomos rever o poste.
O mesmo poste de quando a gente
brincava de pique
e de esconder.
1Agora ele
estava tão verdinho!
O corpo recoberto de limo e
borboletas.
Eu quis filmar o abandono do
poste.
O seu estar parado.
O seu não ter voz.
O seu não ter sequer mãos para
se pronunciar com
as mãos.
Penso que a natureza o adotara
em árvore.
Porque eu bem cheguei de ouvir
arrulos1 de passarinhos
que um dia teriam cantado entre
as suas folhas.
Tentei transcrever para flauta a
ternura dos arrulos.
Mas o mato era mudo.
Agora o poste se inclina para o
chão − como alguém
que procurasse o chão para
repouso.
Tivemos
saudades de nós.
Manoel de
Barros
Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010.
1 arrulos − canto ou gemido
de rolas e pombas
15.
(Uerj 2015) No poema, o poste é
associado à própria vida do eu poético.
Nessa associação, a imagem do poste se
constrói pelo seguinte recurso da linguagem:
a) anáfora
b) metáfora
c) sinonímia
d) hipérbole
16.
(Uerj 2015) Agora ele estava tão verdinho! (ref. 1)
De modo diferente do que ocorre em passarinhos,
o emprego do diminutivo, no verso acima, contribui para expressar um sentido
de:
a) oposição
b) gradação
c) proporção
d) intensidade
bem sugerido o simulado!
ResponderExcluirNo trecho "toda revelação é de uma vulgaridade abominável" pode-se inferir o uso de uma figura de linguagem denominada como: *
ResponderExcluir