domingo, 4 de junho de 2017

Simulado modelo- UERJ - gabarito na 4ª feira

1. (Uerj 2016)  Sobretudo compreendam os críticos a missão dos poetas, escritores e artistas, neste período especial e ambíguo da formação de uma nacionalidade. São estes os operários incumbidos de polir o talhe e as feições da individualidade que se vai esboçando no viver do povo.
O povo que chupa o caju, a manga, o cambucá e a jabuticaba pode falar com igual pronúncia e o mesmo espírito do povo que sorve o figo, a pera, o damasco e a nêspera?

José de Alencar, prefácio a Sonhos d’ouro, 1872.
Adaptado de ebooksbrasil.org.


De acordo com José de Alencar, a caracterização da identidade nacional brasileira, no século XIX, estava vinculada ao processo de:
a) promoção da cultura letrada   
b) integração do mundo lusófono   
c) valorização da miscigenação étnica   
d) particularização da língua portuguesa   

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 4 QUESTÕES:
Pietro Brun, meu tetravô paterno, embarcou em um navio no final do século 19, como tantos italianos pobres, em busca de uma utopia que atendia pelo nome de América. Pietro queria terra, sim. Mas o que o movia era um território de outra ordem. Ele queria salvar seu nome, encarnado na figura de meu bisavô, Antônio. Pietro fora obrigado a servir o exército como soldado por anos demais (...). 1Havia chegado a hora de Antônio se alistar, e o pai decidiu que não perderia seu filho. Fugiu com ele e com a filha Luigia para o sul do Brasil. 2Como desertava, meu bisavô Antônio foi levado em um bote até o navio que já se afastava do porto de Gênova. Embarcou como clandestino.
Ao desembarcar no Brasil, em 10 de fevereiro de 1883, Pietro declarou o nome completo. O funcionário do Império, como aconteceu tantas e tantas vezes, registrou-o conforme ouviu. Tornando-o, no mundo novo, Brum – com “m”. Meu pai, Argemiro, filho de José, neto de Antônio e bisneto de Pietro, tomou para si a missão de resgatar essa história e documentá-la.
3No início dos anos 1990 cogitamos reivindicar a cidadania italiana. Possuímos todos os documentos, organizados numa pasta. 4Mas entre nós existe essa diferença na letra. 5Antes de ingressar com a documentação, seria preciso corrigir o erro do burocrata do governo imperial que substituiu um “n” por um “m”. 6Um segundo ele deve ter demorado para nos transformar, e com certeza morreu sem saber. E, se soubesse, não teria se importado, porque era apenas o nome de mais um imigrante a bater nas costas do Brasil despertencido de tudo.
Cabia a mim levar essa empreitada adiante.
Há uma autonomia na forma como damos carne ao nosso nome com a vida que construímos – e não com a que herdamos. (...) Eu escolho a memória. A desmemória assombra porque não a nomeamos, respira em nossos porões como monstros sem palavras. A memória, não. É uma escolha do que esquecer e do que lembrar – e uma oportunidade de ressignificar o passado para ganhar um futuro. 7Pela memória nos colocamos não só em movimento, mas nos tornamos o próprio movimento. Gesto humano, para sempre incompleto.
8Ao fugir para o Brasil, metade dos Brun ganhou uma perna a mais. O “n” virou “m”. Mas essa perna a mais era um membro fantasma, um ganho que revelava uma perda.
(...)
9Quando Pietro Brun atravessou o mar deixando mortos e vivos na margem que se distanciou, ele não poderia ser o mesmo ao alcançar o outro lado. 10Ele tinha de ser outro, assim como nós, que resultamos dessa aventura desesperada. Era imperativo que ele fosse Pietro Brum – e depois até Pedro Brum.

ELIANE BRUM
Meus desacontecimentos: a história da minha vida com as palavras. São Paulo: LeYa, 2014.


2. (Uerj 2017)  Releia o trecho abaixo para responder à questão.

Ao fugir para o Brasil, metade dos Brun ganhou uma perna a mais. O “n” virou “m”. Mas essa perna a mais era um membro fantasma, um ganho que revelava uma perda. (ref. 8)

Diante da conduta do funcionário do governo brasileiro, é possível inferir a seguinte reação por parte de Pietro Brun:
a) apreço pela nova pátria   
b) respeito à memória familiar   
c) submissão às práticas oficiais   
d) desprezo pelas regras migratórias   
  
3. (Uerj 2017)  No texto, a autora narra fatos e expõe suas opiniões relacionados à vinda de sua família para o Brasil.

Uma dessas opiniões está explicitada em:
a) Havia chegado a hora de Antônio se alistar, e o pai decidiu que não perderia seu filho. (ref. 1)   
b) No início dos anos 1990 cogitamos reivindicar a cidadania italiana. (ref. 3)   
c) Antes de ingressar com a documentação, seria preciso corrigir o erro do burocrata do governo imperial que substituiu um “n” por um “m”. (ref. 5)   
d) Quando Pietro Brun atravessou o mar deixando mortos e vivos na margem que se distanciou, ele não poderia ser o mesmo ao alcançar o outro lado. (ref. 9)   
  
4. (Uerj 2017)  A partir da narrativa de um episódio familiar, a autora elabora reflexões que vão além desse contexto pessoal, generalizando-o.

Essa generalização pode ser observada no emprego da primeira pessoa do plural no seguinte trecho:
a) Mas entre nós existe essa diferença na letra. (ref. 4)   
b) Um segundo ele deve ter demorado para nos transformar, (ref. 6)   
c) Pela memória nos colocamos não só em movimento, (ref. 7)   
d) Ele tinha de ser outro, assim como nós, (ref. 10)   
  
5. (Uerj 2017)  Releia o trecho abaixo para responder à questão.

Ao fugir para o Brasil, metade dos Brun ganhou uma perna a mais. O “n” virou “m”. Mas essa perna a mais era um membro fantasma, um ganho que revelava uma perda. (ref. 8)

A autora associa a troca de letras no registro do sobrenome de seu tetravô à expressão um membro fantasma.

Essa associação constrói um exemplo da figura de linguagem denominada:
a) antítese   
b) metáfora   
c) hipérbole   
d) eufemismo   

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
O passado anda atrás de nós
como os detetives os cobradores os ladrões
o futuro anda na frente
como as crianças os guias de montanha
os maratonistas melhores
do que nós
salvo engano o futuro não se imprime
como o passado nas pedras nos móveis no rosto
das pessoas que conhecemos
o passado ao contrário dos gatos
não se limpa a si mesmo
aos cães domesticados se ensina
a andar sempre atrás do dono
mas os cães o passado só aparentemente nos pertencem
pense em como do lodo primeiro surgiu esta poltrona este livro
este besouro este vulcão este despenhadeiro
à frente de nós à frente deles
corre o cão

ANA MARTINS MARQUES
O livro das semelhanças. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.



6. (Uerj 2017)  No poema, há marcas de linguagem que remetem tanto à poeta quanto a seus leitores. Uma dessas marcas, referindo-se unicamente ao leitor, está presente no seguinte verso:
a) como o passado nas pedras nos móveis no rosto (v. 8)   
b) das pessoas que conhecemos (v. 9)   
c) pense em como do lodo primeiro surgiu esta poltrona este livro (v. 15)   
d) à frente de nós à frente deles (v. 17)   
  
7. (Uerj 2017)  aos cães domesticados se ensina
a andar sempre atrás do dono
mas os cães o passado só aparentemente nos pertencem (v. 12-14)

Nesses versos, sugere-se uma ideia a respeito da relação entre cães e seres humanos.
Essa ideia, no verso destacado, recebe da poeta a seguinte avaliação:
a) adesão   
b) negação   
c) proibição   
d) permissão   

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES:
TERRORISMO LÓGICO

O TERRORISMO É DUPLAMENTE OBSCURANTISTA: PRIMEIRO NO ATENTADO, DEPOIS NAS REAÇÕES QUE DESENCADEIA.

            Said e Chérif Kouachi eram descendentes de imigrantes. Said e Chérif Kouachi são suspeitos do ataque ao jornal Charlie Hebdo, na França. Se não houvesse imigrantes na França, não teria havido ataque ao Charlie Hebdo.
            Said e Chérif Kouachi, suspeitos do ataque ao jornal Charlie Hebdo, eram filhos de argelinos. Zinedine Zidane é filho de argelinos. Zinedine Zidane é terrorista.
            Zinedine Zidane é filho de argelinos. Said e Chérif Kouachi, suspeitos do ataque ao jornal Charlie Hebdo, eram filhos de argelinos. Said e Chérif Kouachi sabiam jogar futebol. Muçulmanos são uma minoria na França. Membros de uma minoria são suspeitos do ataque terrorista. Olha aí no que dá defender minoria...
            A esquerda francesa defende minorias. Membros de uma minoria são suspeitos pelo ataque terrorista. A esquerda francesa é culpada pelo ataque terrorista.
            A extrema direita francesa demoniza os imigrantes. O ataque terrorista fortalece a extrema direita francesa. A extrema direita francesa está por trás do ataque terrorista.
            Marine Le Pen é a líder da extrema direita francesa. “Le Pen” é “O Caneta”, se tomarmos o artigo em francês e o substantivo em inglês. Eis aí uma demonstração de apoio da extrema direita francesa à liberdade de expressão – e aos erros de concordância nominal.
            Numa democracia, é desejável que as pessoas sejam livres para se expressar. Algumas dessas expressões podem ofender indivíduos ou grupos. Numa democracia, é desejável que indivíduos ou grupos sejam ofendidos.
            Os terroristas que atacaram o jornal Charlie Hebdo usavam gorros pretos. “Black blocs” usam gorros pretos. “Black blocs” são terroristas.
            1Todo abacate é verde. O Incrível Hulk é verde. O Incrível Hulk é um abacate.

Antonio Prata
Adaptado de Folha de São Paulo, 11/01/2015.



8. (Uerj 2016)  Considere o último parágrafo do texto.

Todo abacate é verde. O Incrível Hulk é verde. O Incrível Hulk é um abacate. (ref. 1)

Todo argumento pode se tornar um sofisma: um raciocínio errado ou inadequado que nos leva a conclusões falsas ou improcedentes. O último parágrafo do texto é um exemplo de sofisma, considerando que, da constatação de que todo abacate é verde, não se pode deduzir que só os abacates têm cor verde.
Esse é o tipo de sofisma que adota o seguinte procedimento:
a) enumeração incorreta   
b) generalização indevida   
c) representação imprecisa   
d) exemplificação inconsistente   
  
9. (Uerj 2016)  O terrorismo é duplamente obscurantista: primeiro no atentado, depois nas reações que desencadeia.

O subtítulo do texto sugere uma explicação para o título.
Essa explicação é melhor compreendida pela associação entre:
a) tiros e opiniões   
b) armas e negociações   
c) convicções e mentiras   
d) crenças e esclarecimentos   
  
10. (Uerj 2016)  Considere o último parágrafo do texto.

Todo abacate é verde. O Incrível Hulk é verde. O Incrível Hulk é um abacate. (ref. 1)

Este parágrafo indica como o leitor deve ler todos os anteriores.
Segundo essa indicação, os argumentos apresentados pelo cronista devem ser compreendidos como:
a) críticas irônicas   
b) exercícios formais   
c) raciocínios aceitáveis   
d) recriações linguísticas   

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 4 QUESTÕES:
A EDUCAÇÃO PELA SEDA

Vestidos muito justos são vulgares. Revelar formas é vulgar. Toda revelação é de uma vulgaridade abominável.
Os conceitos a vestiram como uma segunda pele, e pode-se adivinhar a norma que lhe rege a vida ao primeiro olhar.
Rosa Amanda Strausz
Mínimo múltiplo comum: contos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990.


11. (Uerj 2016)  A narrativa condensada do texto sugere uma crítica relacionada à educação, tema anunciado no título.
Essa crítica dirige-se principalmente à seguinte característica geral da vida social:
a) problemas frequentes vividos na infância   
b) julgamentos superficiais produzidos por preconceitos   
c) dificuldades previsíveis criadas pelas individualidades   
d) desigualdades acentuadas encontradas na juventude   
  
12. (Uerj 2016)  Os conceitos a vestiram como uma segunda pele,
O vocábulo a é comumente utilizado para substituir termos já enunciados. No texto, entretanto, ele tem um uso incomum, já que permite subentender um termo não enunciado.
Esse uso indica um recurso assim denominado:
a) elipse   
b) catáfora   
c) designação   
d) modalização   
  
13. (Uerj 2016)  O conto contrasta dois tipos de texto em sua estrutura.
Enquanto o segundo parágrafo se configura como narrativo, o primeiro parágrafo se aproxima da seguinte tipologia:
a) injuntivo   
b) descritivo   
c) dramático   
d) argumentativo   
  
14. (Uerj 2016)  pode-se adivinhar a norma que lhe rege a vida ao primeiro olhar.
A expressão destacada reforça o sentido geral do texto, porque remete a uma ação baseada no seguinte aspecto:
a) vulgaridade   
b) exterioridade   
c) regularidade   
d) ingenuidade   

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
CANÇÃO DO VER

Fomos rever o poste.
O mesmo poste de quando a gente brincava de pique
e de esconder.
1Agora ele estava tão verdinho!
O corpo recoberto de limo e borboletas.
Eu quis filmar o abandono do poste.
O seu estar parado.
O seu não ter voz.
O seu não ter sequer mãos para se pronunciar com
as mãos.
Penso que a natureza o adotara em árvore.
Porque eu bem cheguei de ouvir arrulos1 de passarinhos
que um dia teriam cantado entre as suas folhas.
Tentei transcrever para flauta a ternura dos arrulos.
Mas o mato era mudo.
Agora o poste se inclina para o chão − como alguém
que procurasse o chão para repouso.
Tivemos saudades de nós.

Manoel de Barros
Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010.

1 arrulos − canto ou gemido de rolas e pombas


15. (Uerj 2015)  No poema, o poste é associado à própria vida do eu poético.
Nessa associação, a imagem do poste se constrói pelo seguinte recurso da linguagem:
a) anáfora   
b) metáfora   
c) sinonímia   
d) hipérbole   
  
16. (Uerj 2015)  Agora ele estava tão verdinho! (ref. 1)

De modo diferente do que ocorre em passarinhos, o emprego do diminutivo, no verso acima, contribui para expressar um sentido de:
a) oposição   
b) gradação   
c) proporção   
d) intensidade   

 

2 comentários:

  1. No trecho "toda revelação é de uma vulgaridade abominável" pode-se inferir o uso de uma figura de linguagem denominada como: *

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