ENEMGAP- LITERATURA – 3002 -1º TRIMESTRE
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
A TERCEIRA MARGEM DO RIO
1 Nosso pai era homem
cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que
testemunharam as diversas pessoas sensatas, quando indaguei a informação. Do
que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que
os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que
ralhava 1no diário com a gente - minha irmã, meu irmão e eu. Mas se
deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.
2 Era a sério. 6Encomendou
a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa,
como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida
forte e arquejada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou
trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a ideia. Seria que, ele, que nessas
artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? 5Nosso
pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra
de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que
sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não
posso, do dia em que a canoa ficou pronta.
3 Sem alegria nem cuidado,
nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras
palavras, não pegou matula e trouxa, não fez nenhuma recomendação. Nossa mãe, a
gente achou que ela ia 4esbravejar, mas persistiu
somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: "-Cê vai, ocê fique, você
nunca volte!" 8Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso
para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe,
mas obedeci, de vez de jeito. 7O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei:
- "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" 4Ele só retornou o olhar
em mim, e me 2botou a bênção, com gesto me mandando para 3trás.
Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na
canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo - a sombra dela por
igual, feito um jacaré, comprida longa.
(Guimarães Rosa, J. FICÇÃO COMPLETA. Rio de Janeiro, Ed. Nova Aguilar, 1994, p.409.)
1. (Pucrj) Segundo
o texto, na visão do menino:
a) a mãe era uma pessoa brava e
enérgica; o pai, metódico e calado.
b) a mãe não aprovava a ideia de
ver o marido levar o filho para caçadas e pescarias.
c) a mãe era a responsável pela
saída do pai.
d) o pai o abandonou, porque não
gostava dele.
e) era bom viajar com o pai, mas
era melhor ficar no aconchego do lar.
2. (Pucrj) Sobre
o texto, só NÃO podemos dizer que:
a) apresenta cenário rural em que
se percebem elementos arcaizantes.
b) possui narrador de primeira
pessoa que se mostra consciente de que seu narrar provém da memória.
c) mostra, na figura feminina,
traços da herança matriarcal.
d) pretende reproduzir o linguajar
dos habitantes da região retratada.
e) desenha, com precisão, as
características físicas, morais e psicológicas dos personagens.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
NOSSO PAI era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde
mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando
indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais
estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa
mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente - minha irmã, meu irmão
e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.
(ROSA, João Guimarães. PRIMEIRAS ESTÓRIAS.
R.Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1988.)
3. (Pucsp) O
trecho anterior é do conto "A terceira margem do rio", escrito por
João Guimarães Rosa. Considerando o conto com um todo, é incorreto afirmar-se
dele o seguinte:
a) insere-se no livro PRIMEIRAS
ESTÓRIAS, conjunto de contos de temática variada e de linguagem que, sem deixar
de apresentar recursos de estilo, revela aproveitamento do coloquial e da fala
popular.
b) fala de um homem refugiado em
uma canoa no meio do rio onde, em absoluto silêncio, resiste ao tempo.
c) aborda o tema da loucura,
presente também em outras narrativas que compõem o livro, entre as quais
SORÔCO, SUA MÃE, SUA FILHA.
d) sugere, no diz-que-diz das
pessoas, que as razões do desatino da personagem estão ligadas à doideira, ao
pagamento de promessa, à lepra ou a um aviso semelhante ao de Noé sobre o fim
do mundo.
e) revela que o filho, narrador do
conto, acaba tendo o mesmo final triste do pai, já que o substitui nas vagações
rio afora.
4. (Ufes) "
- Se quer seguir-me, narro-lhe; não uma aventura, mas experiência, a que me
induziram, alternadamente, séries de raciocínios e intuições. Tomou-me tempo, desânimos, esforços. Dela me prezo,
sem vangloriar-me. Surpreendo-me, porém, um tanto à-parte de todos, penetrando
conhecimento que os outros ignoram [...]
Sim? Mas, então, está irremediavelmente destruída a concepção de
vivermos em agradável acaso sem razão
nenhuma, num vale de bobagens? Disse. Se me permite, espero, agora, sua
opinião, mesma, do senhor, sobre tanto assunto. Solicito os reparos que se
digne dar-me, a mim, servo do senhor, recente amigo, mas companheiro no amor da
ciência, de seus transviados acertos e de seus esbarros titubeados. Sim?"
Os trechos supracitados, de um conto de "Primeiras estórias",
de Guimarães Rosa, fazem um convite ao leitor para responder a certas questões
referentes à natureza da vida e da existência humana a partir da temática
tratada em sua narrativa. Marque a alternativa cuja sequência indique
CORRETAMENTE temática, título e sinopse do conto do qual os trechos acima foram
retirados.
a) Amor/ "Substância":
moça, contratada para o ofício de quebrar polvilho, ao crescer é estuprada pelo
patrão fazendeiro.
b) Culpa / "A terceira margem
do rio": personagem sem nome conta as razões transcendentais que levaram
seu pai a se isolar em ilha deserta.
c) Imagem / "O espelho" :
personagem sem nome especula em torno de uma experiência em que o espelho se
revela como metáfora da alma.
d) Loucura / "Sorôco, sua mãe,
sua filha": os personagens do título, antes de serem levados para o
manicômio, são alvos de chacota por parte da população.
e) Medo / "Famigerado":
médico radicado no interior recebe a visita de retirantes nordestinos em busca
de pouso e alimentação.
5. (Enem 2014) Camelôs
Abençoado
seja o camelô dos brinquedos de tostão:
O que vende
balõezinhos de cor
O macaquinho
que trepa no coqueiro
O cachorrinho
que bate com o rabo
Os
homenzinhos que jogam boxe
A perereca
verde que de repente dá um pulo que engraçado
E as
canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coisa alguma.
Alegria das
calçadas
Uns falam
pelos cotovelos:
— “O
cavalheiro chega em casa e diz: Meu filho, vai buscar um pedaço de banana para
eu [acender o charuto.
Naturalmente
o menino pensará: Papai está malu...”
Outros,
coitados, têm a língua atada.
Todos porém
sabem mexer nos cordéis como o tino ingênuo de demiurgos de inutilidades.
E ensinam no
tumulto das ruas os mitos heroicos da meninice...
E dão aos
homens que passam preocupados ou tristes uma lição de infância.
BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.
Uma das diretrizes do Modernismo foi a percepção de elementos do
cotidiano como matéria de inspiração poética. O poema de Manuel Bandeira
exemplifica essa tendência e alcança expressividade porque
a) realiza
um inventário dos elementos lúdicos tradicionais da criança brasileira.
b) promove
uma reflexão sobre a realidade de pobreza dos centros urbanos.
c) traduz
em linguagem lírica o mosaico de elementos de significação corriqueira.
d) introduz
a interlocução como mecanismo de construção de uma poética nova.
e) constata
a condição melancólica dos homens distantes da simplicidade infantil.
6. (Enem PPL 2014) Evocação do Recife
A vida não me
chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca
do povo na língua errada do povo
Língua certa
do povo
Porque ele é
que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que
nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe
lusíada…
BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2007.
Segundo o
poema de Manuel Bandeira, as variações linguísticas originárias das classes
populares devem ser
a) satirizadas, pois as várias
formas de se falar o português no Brasil ferem a língua portuguesa autêntica.
b) questionadas, pois o povo
brasileiro esquece a sintaxe da língua portuguesa.
c) subestimadas, pois o português
“gostoso” de Portugal deve ser a referência de correção linguística.
d) reconhecidas, pois a formação
cultural brasileira é garantida por meio da fala do povo.
e) reelaboradas, pois o povo
“macaqueia” a língua portuguesa original.
7. (Enem PPL 2014) Cena
O canivete
voou
E o negro
comprado na cadeia
Estatelou de
costas
E bateu coa
cabeça na pedra
ANDRADE, O. Pau-brasil. São Paulo: Globo,
2001.
O Modernismo
representou uma ruptura com os padrões formais e temáticos até então vigentes
na literatura brasileira. Seguindo esses aspectos, o que caracteriza o poema Cena
como modernista é o(a)
a) construção linguística por meio
de neologismo.
b) estabelecimento de um campo
semântico inusitado.
c) configuração de um
sentimentalismo conciso e irônico.
d) subversão de lugares-comuns
tradicionais.
e) uso da técnica de montagem de
imagens justapostas.
8. (Enem PPL 2013) Mar português
Ó mar
salgado, quanto do teu sal
São lágrimas
de Portugal!
Por te
cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos
filhos em vão rezaram!
Quantas
noivas ficaram por casar
Para que
fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena?
Tudo vale a pena
Se a alma não
é pequena.
Quem quer
passar além do Bojador
Tem que
passar além da dor.
Deus ao mar o
perigo e o abismo deu,
Mas nele é
que espelhou o céu.
PESSOA, F. Mensagens. São Paulo: Difel, 1986.
Nos versos 1
e 2, a hipérbole e a metonímia foram utilizadas para subverter a realidade.
Qual o objetivo dessa subversão para a constituição temática do poema?
a) Potencializar a importância dos
feitos lusitanos durante as grandes navegações.
b) Criar um fato ficcional ao
comparar o choro das mães ao choro da natureza.
c) Reconhecer as dificuldades
técnicas vividas pelos navegadores portugueses.
d) Atribuir as derrotas portuguesas
nas batalhas às fortes correntes marítimas.
e) Relacionar os sons do mar ao
lamento dos derrotados nas batalhas do Atlântico.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Poema
Encontrado por Thiago de Mello
No Itinerário de Pasárgada
Vênus luzia sobre nós tão grande,
Tão intensa, tão bela, que chegava
A parecer escandalosa, e dava
Vontade de morrer.
Manuel Bandeira
9. (Fgvrj 2013) Nesse breve poema de
Bandeira, manifesta-se um aspecto que alguns de seus principais estudiosos
consideram central e decisivo na obra do poeta, a saber,
a) a aversão tipicamente modernista
ao belo natural.
b) a rejeição do que é grande e,
também, do que é sublime.
c) o sestro romântico de
transfigurar a paisagem.
d) a conjugação da maior expansão
vital e do sentimento de morte.
e) o erotismo de caráter amoral,
que contamina todo o cosmo.
10. (Enem PPL 2012) A rua
Bem sei que, muitas vezes,
O único remédio
É adiar tudo. É adiar a sede, a fome, a viagem,
A dívida, o divertimento,
O pedido de emprego, ou a própria alegria.
A esperança é também uma forma
De contínuo adiamento.
Sei que é preciso prestigiar a esperança,
Numa sala de espera.
Mas sei também que espera significa luta e não, apenas,
Esperança sentada.
Não abdicação diante da vida.
A esperança
Nunca é a forma burguesa, sentada e tranquila da espera.
Nunca é figura de mulher
Do quadro antigo.
Sentada, dando milho aos pombos.
RICARDO, C. Disponível em: www.revista.agulha.com.br. Acesso em: 2 jan. 2012.
O poema de Cassiano Ricardo insere-se no Modernismo brasileiro. O autor metaforiza a crença do sujeito lírico numa relação entre o homem e seu tempo marcada por
a) um olhar de resignação perante
as dificuldades materiais e psicológicas da vida.
b) uma ideia de que a esperança do
povo brasileiro está vinculada ao sofrimento e às privações.
c) uma posição em que louva a
esperança passiva para que ocorram mudanças sociais.
d) um estado de inércia e de
melancolia motivado pelo tempo passado “numa sala de espera”.
e) uma atitude de perseverança e
coragem no contexto de estagnação histórica e social.
gabarito
Resposta da questão 1: [A]
Resposta da questão 2: [E]
Resposta da questão 3: [E]
Resposta da questão 4: [C]
Resposta da questão 5: [C]
Resposta da questão 6: [D]
Resposta da questão 7: [E]
Resposta da questão 8: [A]
Resposta da questão9: [D]
Resposta da questão 10: [E]
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