domingo, 19 de fevereiro de 2017

MODERNISMO- PRIMEIRA GERAÇÃO

1. (Enem PPL 2015)  O peru de Natal

O nosso primeiro Natal de família, depois da morte de meu pai acontecida cinco meses antes, foi de consequências decisivas para a felicidade familiar. Nós sempre fôramos familiarmente felizes, nesse sentido muito abstrato da felicidade: gente honesta, sem crimes, lar sem brigas internas nem graves dificuldades econômicas. Mas, devido principalmente à natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido de qualquer lirismo, duma exemplaridade incapaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicidades materiais, um vinho bom, uma estação de águas, aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um bom errado, quase dramático, o puro-sangue dos desmancha-prazeres.

ANDRADE, M. In: MORICONI, I. Os cem melhores contos brasileiros do século.
São Paulo: Objetiva, 2000 (fragmento).


No fragmento do conto de Mário de Andrade, o tom confessional do narrador em primeira pessoa revela uma concepção das relações humanas marcada por
a) distanciamento de estados de espírito acentuado pelo papel das gerações.   
b) relevância dos festejos religiosos em família na sociedade moderna.   
c) preocupação econômica em uma sociedade urbana em crise.   
d) consumo de bens materiais por parte de jovens, adultos e idosos.   
e) pesar e reação de luto diante da morte de um familiar querido.   
  
2. (Enem 2015)  Em junho de 1913, embarquei para a Europa a fim de me tratar num sanatório suíço. Escolhi o de Clavadel, perto de Davos-Platz, porque a respeito dele me falara João Luso, que ali passara um inverno com a senhora. Mais tarde vim a saber que antes de existir no lugar um sanatório, lá estivera por algum tempo Antônio Nobre. “Ao cair das folhas”, um de seus mais belos sonetos, talvez o meu predileto, está datado de “Clavadel, outubro, 1895”. Fiquei na Suíça até outubro de 1914.

BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.


No relato de memórias do autor, entre os recursos usados para organizar a sequência dos eventos narrados, destaca-se a
a) construção de frases curtas a fim de conferir dinamicidade ao texto.   
b) presença de advérbios de lugar para indicar a progressão dos fatos.   
c) alternância de tempos do pretérito para ordenar os acontecimentos.   
d) inclusão de enunciados com comentários e avaliações pessoais.   
e) alusão a pessoas marcantes na trajetória de vida do escritor.   
  
3. (Enem 2014)  Camelôs

Abençoado seja o camelô dos brinquedos de tostão:
O que vende balõezinhos de cor
O macaquinho que trepa no coqueiro
O cachorrinho que bate com o rabo
Os homenzinhos que jogam boxe
A perereca verde que de repente dá um pulo que engraçado
E as canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coisa alguma.

Alegria das calçadas
Uns falam pelos cotovelos:
— “O cavalheiro chega em casa e diz: Meu filho, vai buscar um pedaço de banana para eu [acender o charuto.
Naturalmente o menino pensará: Papai está malu...”

Outros, coitados, têm a língua atada.

Todos porém sabem mexer nos cordéis como o tino ingênuo de demiurgos de inutilidades.
E ensinam no tumulto das ruas os mitos heroicos da meninice...
E dão aos homens que passam preocupados ou tristes uma lição de infância.

BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.

Uma das diretrizes do Modernismo foi a percepção de elementos do cotidiano como matéria de inspiração poética. O poema de Manuel Bandeira exemplifica essa tendência e alcança expressividade porque
a) realiza um inventário dos elementos lúdicos tradicionais da criança brasileira.   
b) promove uma reflexão sobre a realidade de pobreza dos centros urbanos.   
c) traduz em linguagem lírica o mosaico de elementos de significação corriqueira.   
d) introduz a interlocução como mecanismo de construção de uma poética nova.   
e) constata a condição melancólica dos homens distantes da simplicidade infantil.   

 LITERATURA- MODERNISMO- 1ª GERAÇÃO

  
4. (Enem PPL 2015)  Vei, a Sol

Ora o pássaro careceu de fazer necessidade, fez e o herói ficou escorrendo sujeira de urubu. Já era de madrugadinha e o tempo estava inteiramente frio. Macunaíma acordou tremendo, todo lambuzado. Assim mesmo examinou bem a pedra mirim da ilhota para vê si não havia alguma cova com dinheiro enterrado. Não havia não. Nem a correntinha encantada de prata que indica pro escolhido, tesouro de holandês. Havia só as formigas jaquitaguas ruivinhas.
Então passou Caiuanogue, a estrela da manhã. Macunaíma já meio enjoado de tanto viver pediu pra ela que o carregasse pro céu.
Caiuanogue foi se chegando porém o herói fedia muito.
– Vá tomar banho! – ela fez. E foi-se embora.
Assim nasceu a expressão “Vá tomar banho” que os brasileiros empregam se referindo a certos imigrantes europeus.

ANDRADE, M. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Rio de Janeiro: Agir, 2008.


O fragmento de texto faz parte do capítulo VII, intitulado “Vei, a Sol”, do livro Macunaíma, de Mário de Andrade, pertencente à primeira fase do Modernismo brasileiro. Considerando a linguagem empregada pelo narrador, é possível identificar
a) resquícios do discurso naturalista usado pelos escritores do século XIX.   
b) ausência de linearidade no tratamento do tempo, recurso comum ao texto narrativo da primeira fase modernista.   
c) referência à fauna como meio de denunciar o primitivismo e o atraso de algumas regiões do país.   
d) descrição preconceituosa dos tipos populares brasileiros, representados por Macunaíma e Caiuanogue.   
e) uso da linguagem coloquial e de temáticas do lendário brasileiro como meio de valorização da cultura popular nacional.   
  
5. (Ufu 2015)  O último poema
Manuel Bandeira

Assim eu queria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996, p. 223.


De acordo com o poema acima, assinale a alternativa correta.
a) Neste poema de versos regulares, o eu lírico emprega o metadiscurso, debruçando-se sobre seu próprio fazer poético.   
b) Neste poema de versos livres, o eu poético lança mão da metalinguagem para refletir sobre o seu próprio processo criativo.   
c) Neste poema de versos brancos, o eu lírico, pelo processo metalinguístico, compara a poesia ao suicídio.   
d) Neste poema de versos rimados, o eu lírico, pelo processo da metapoesia, compara o fazer poético ao diamante.   
  
6. (Enem PPL 2015)  TEXTO I

Versos de amor
A um poeta erótico

Oposto ideal ao meu ideal conservas.
Diverso é, pois, o ponto outro de vista
Consoante o qual, observo o amor, do egoísta
Modo de ver, consoante o qual, o observas.

Porque o amor, tal como eu o estou amando,
É Espírito, é éter, é substância fluida,
É assim como o ar que a gente pega e cuida,
Cuida, entretanto, não o estar pegando!

É a transubstanciação de instintos rudes,
Imponderabilíssima, e impalpável,
Que anda acima da carne miserável
Como anda a garça acima dos açudes!

ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996 (fragmento).


TEXTO II

Arte de amar

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.


Os Textos I e II apresentam diferentes pontos de vista sobre o tema amor. Apesar disso, ambos definem esse sentimento a partir da oposição entre
a) satisfação e insatisfação.   
b) egoísmo e generosidade.   
c) felicidade e sofrimento.   
d) corpo e espírito.   
e) ideal e real.   
  
7. (Unesp 2015)  Em 1924, uma caravana formada por Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e o poeta franco-suíço Blaise Cendrars, entre outros, percorreu as cidades históricas mineiras e acabou entrando para os anais do Modernismo.

O movimento deflagrado em 1922 estava se reconfigurando.

MARQUES, Ivan. “Trem da modernidade”. Revista de História da Biblioteca Nacional, fevereiro de 2012. Adaptado.

Entre as características da “reconfiguração” do Modernismo, citada no texto, podemos incluir
a) a politização do movimento, o resgate de princípios estéticos do parnasianismo e o indigenismo.   
b) a retomada da tradição simbolista, a defesa da internacionalização da arte brasileira e a valorização das tradições orais.   
c) a incorporação da estética surrealista, o apoio ao movimento tenentista e a defesa do verso livre.   
d) a defesa do socialismo, a crítica ao barroco brasileiro e a revalorização do mundo rural.   
e) a maior nacionalização do movimento, o declínio da influência futurista e o aumento da preocupação primitivista.   
 


Gabarito: 

Resposta da questão 1:
 [A]

O último período do excerto é revelador do confronto entre o narrador e seu pai, cuja morte representou a queda do regime patriarcal marcado pela frieza e formalidade e permitiu que a família pudesse usufruir de prazerosas reuniões, como uma festa de Natal. Assim, é correta a opção [A], pois o fragmento é ilustrativo de uma concepção das relações humanas marcada pelo distanciamento de estados de espírito entre duas gerações.  

Resposta da questão 2:
 [C]

O autor usa verbos no pretérito perfeito (“embarquei”, “vim” e “fiquei”) para relatar tempos passados e concluídos, alternando-os com verbos no pretérito mais-que-perfeito (“passara”, e “estivera”) para descrever ações que tinham acontecido antes daqueles primeiros. Assim, o recurso usado pelo autor para organizar a sequência de eventos é a alternância de tempos do pretérito, como se afirma em [C].  

Resposta da questão 3:
 [C]

Manoel Bandeira tem como uma das mais fortes marcas a expressão da ternura através de imagens simples e rotineiras. Apesar de ser uma das marcas da estética modernista, trazer a vida comum para os versos dessacralizando-o de alguma maneira, este poeta consegue desenvolver essa transparência através da sutileza que envolve seu olhar poético tão especial para as pequenas coisas, bem como a habilidade de descrever em palavras um sentimento tão subjetivo e ao mesmo tempo tão universal.  


Resposta da questão 4: [E]

É correta a opção [E], pois “Macunaíma”, de Mário de Andrade, faz parte da primeira fase modernista, período em que as vanguardas europeias são visíveis nas técnicas inovadoras de linguagem, nas inúmeras referências ao folclore brasileiro e na composição narrativa que se aproxima da oralidade.  

Resposta da questão 5: [B]

Neste poema de versos livres e brancos, o eu lírico reflete metalinguisticamente sobre o fazer poético, defende a lírica livre de regras formais, a simplicidade oriunda da espontaneidade e a expressão intensa das emoções, sem resvalar na pieguice sentimental.  

Resposta da questão 6: [D]

O poema de Augusto dos Anjos estabelece oposição do conceito de amor relativamente ao de Manuel Bandeira. Enquanto o primeiro valoriza a espiritualidade (“Porque o amor, tal como eu o estou amando,/É Espírito, é éter, é substância fluida”), o segundo enfatiza a importância da carnalidade na relação amorosa (“Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo./Porque os corpos se entendem, mas as almas não”). Assim, é correta a opção [D].  

Resposta da questão 7: [E]

Em 1924 foi iniciado o movimento Pau Brasil, por Oswald de Andrade; percebe-se, a partir de então, maior preocupação dos artistas com o próprio Brasil (e a viagem dessa caravana às cidades históricas mineiras é bastante proveitosa nesse sentido) em sua versão primitivista: valoriza-se a arte popular em detrimento à vanguardista.   




Nenhum comentário:

Postar um comentário